quarta-feira, 18 de julho de 2007

Ônibus

Andar de ônibus pode ser um inferno. Estava na Nossa Senhora de Copacabana quando o avistei. Um gigante amarelo, 127: Rodoviária. Fiz sinal, ele passou por mim e parou uns 5 metros à frente. Dei uma corrida singela e adentrei. Ar-condicionado? Nessa linha não tem, pelo menos economizo meu RioCard. Era um dia daqueles que o sol e o calor fazem questão de castigar quem trabalha e abençoar quem tá na praia.
Eu, malandro que sou, fui sentar nos assentos da direita, onde o sol abrasador não bate. Pena que a malandragem não é somente virtude minha, os assentos da direita estavam todos ocupados por trabalhadores como eu. Paciência. Sentei-me num lugar quentão mesmo, daqui para o centro são 20 minutos só, não morrerei até lá. Abri as janelas e em seguida liguei meu poderoso iPod, que me privará das buzinas frenéticas, dos motores histéricos e de qualquer outra aporrinhação. Abri o jornal e aproveitei a viagem.
No ponto seguinte entrou uma mulher carregando um bebê de colo. Ela sentou-se no banco em frente. Num dado momento o bebê desandou a chorar. Não sei se foi por causa do calor ou se foi de sacanagem mesmo. A cada freada do busão a criança esperneava ainda mais. Cada vez mais alto e mais alto e mais alto. O meu potente iPod já não conseguia abafar a histeria da criança. O último volume era inútil. Todos no ônibus se entreolhavam com vontade de esganar a pobre criancinha, comigo não era diferente. Teve uma hora, depois de tanto chorar, que a ela olhou para mim e abriu um sorrizinho. Por um momento achei-a tão bonitinha, me derreti por aquele gesto. Ingênuo eu, logo em seguida ela mudou a expressão e mergulhou no pranto, só que dessa vez ainda mais alto e estridente. Pronto. Logo constatei que o choro era só de sacanagem comigo e não por qualquer outro motivo.
O sol batia com força no meu rosto que já estava suado, meu corpo um tanto melado e a blusa grudada. De repente adentra no ônibus uma mulher com o mesmo peso do Tim Maia. Ela suava quinze vezes mais do que eu. Mais até que o próprio Tim em dias de show no Canecão. Com esforço descomunal conseguiu passar pela roleta. Cruzei meus dedos, cerrei os olhos e fiz pensamento positivo. “ela não sentará comigo, ela não sentará comigo”. Senti um esbarrão e quando olhei estava sentado com a mais nova integrante do Fat Family. Não que eu tenha preconceito com gordinhas, mas gordinha é eufemismo para essa mulher.
A cada balançada do ônibus ela encostava o ombro no meu. O ombro suado marcava minha camisa social. Não sei se era de propósito, mas quanto menos eu queria mais ela chegava perto. Passados alguns minutos senti o banco estremecer e um cheiro horrível invadir minhas narinas. Meu Deus, um peido? Que nojo. A banheira se levantou e saltou do ônibus levando consigo aquele cheiro de quem comeu bife de fígado no almoço. Todos no ônibus me olharam como se tivesse sido eu o autor daquele peido mortífero.
A moça com a criança, naquela hora, já tinha saltado. A gorda também. Só assim pude relaxar e curtir o restante da minha viagem em paz. A música do meu iPod estava contagiante e não me contive. Assobiei a melodia deliciosamente. Na hora do refrão senti alguém cutucando meu ombro. Olhei para trás e era um senhor da idade do Zagalo, tão velhinho, não sei como se agüenta em pé, não sei como ainda anda de ônibus. Minha vó na idade dele já tinha morrido. Ele virou-se para mim e disse: “Ô rapazinho, você está atrapalhando o silêncio da viagem, respeite as pessoas do ônibus, sem educação!”
A veia do meu pescoço saltou e fiquei vermelho de raiva, quase explodi. Por sorte consegui conter minhas emoções e então me acalmei. É, Andar de ônibus pode ser mesmo um inferno.

Lucas

4 comentários:

Anônimo disse...

É uma história verídica, acreditem!

Anônimo disse...

Andar de ônibus é um inferno.Principalmente lotado.

Bili,vc é um sobrevivente(como tantos,inclusive eu)!!!

Bjão=*

Sis disse...

É...pelo menos andar de ônibus nos traz essa bagagem de boas histórias para contar!!!
E ainda bem que vc se retratou em relação às gordinhas!!! hiihihi!!!

Anônimo disse...

é rapazinho, a criança histérica sai e vc começa a assobiar?!?!?
Até eu reclamava! rsrsrs
Valeu peidão! rs
Beijos,
Ju