sexta-feira, 26 de outubro de 2007

O Quércia vem aí!

Há uma frase, uma sentença, que não me sai da cabeça há dias: "Quércia vem aí". A profecia está cravada em um muro no Estácio, por onde passo todo dia, indo pra faculdade. E todo dia me pego contemplando a tal frase, como se fosse o enigma da esfinge ou um segredo de Fátima. Já me acostumei com tiroteios, assaltos, famílias desabrigadas, tudo...só uma coisa me chama a atenção, resplandece em meio a todas as desgraças e superficialidades urbanas, tal e qual cristal entre pedras sem valor: "Quércia vem aí", a grande metáfora da esperança louca num futuro que já passou. Tudo indica que a inscrição data de 1994, quando Quércia concorreu à presidência da República. Após treze anos, a frase permanece lá, impávida, intacta, soberana, mesmo exposta a sol, chuva, frio, calor, arrastões e vendavais, como uma tatuagem gravada para sempre na alma do país. "Quércia vem aí" é o registro de um tempo que nos relembra nosso atavismo, nossa fé cega e irracional, quase mística, mas é também uma ameaça, real e constante, eterna e imutável. Sempre que um político disser, na TV, que "estamos trabalhando para atender às demandas urgentes do povo brasileiro", lembre-se: "O Quércia vem aí!"


Dan

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Não Veja

Cara, cada vez a Veja me surpreende mais. Negativamente, claro. Outro dia, esperando para ser atendido no dentista, resolvi ler a última edição. A matéria principal é "Realidade, só a realidade" sobre... o Tropa de Elite. Era de se esperar que a Veja gostasse do filme, como boa fascista que é. Agora, o enfoque dado à mesma é assustador. Ela quase incentiva a tortura. Diz que dá um "tapa na cara da sociedade, porque mostra os verdadeiros culpados pelo tráfico". Pelo amor de Deus!! Eu nem quero mais entrar no mérito dessa discussão...
O que mais me incomoda na Veja é que ela aborada todos os temas relevantes na sociedade sempre pelo viés da direita: aborto, legalização, armas, política. Não tem problema ser uma revista de direita, mas porra, você não pode pensar em determinado assunto SEMPRE com esse pré-conceito.
Acho que no processo seletivo eles devem perguntar aos pretendentes: "Você já votou no Lula?"; "Você já usou algum tipo de droga?"; "Quem foi Costa e Silva, 02?"
A edição anterior era para desmistificar Che. Honestamente, nem conheço a fundo a biografia do mesmo. Mas usar argumentos como o de que ele não tomava banho e fedia chega a ser engraçado, para não dizer ridículo. Além do que, a matéria só ouve personagens que eram contra Che. Quem conhece um pouco de jornalismo, vê que aquilo é nojento. É o mesmo que você fazer uma matéria sobre o Lula e só ouvir o Mainardi e o Reinaldo Azevedo.
Os dois, por sinal, além de arrogantes e prepotentes, são o cúmulo do conservadorismo na imprensa brasileira. O babaca do Mainardi é polêmico para ser polêmico. Diz que o Acre não deveria existir, que a única solução para a América Latina é sair dela. Na mesma edição do Tropa de Elite, o artigo dele termina com a seguinte frase: "Mostra realmente o que é o Brasil: luta de bandido contra bandido". Não sei se ele é bandido. Mas eu não sou. Portanto,"Ei, Mainardi, vai tomar no cú!". O problema não é ele escrever isso, o problema é ele ter um espaço para escrever isso. O tal do Azevedo disse que o Alberto Dines tinha que tomar remédio para a velhice e que ele tinha contribuído para o Golpe de 64. Reinaldo quem?
Tanto a revista quanto os colunistas usam expressões como "a esquerda imbecil"; "a esquerda não sei o que". Por que você não pode explicitar seu ponto de vista sem agredir o outro?
Enfim, a Veja representa o que há de pior na sociedade brasileira: o conservadorismo, a arrogância e o preconceito. Por isso que vende tanto.

Júlio

Terra desaba, máscara idem

O caos que se instalou na cidade devido à chuva forte e o desabamento de terra sobre o Túnel Rebouças refletiu o despreparo do governo para contornar situações extremas. Mais uma vez a população pagou pela omissão do poder público (se não me engano isso aconteceu há pouco tempo com aviões). Ficou claro que a Prefeitura não tem plano emergencial para o trânsito na cidade, nem para nada. Além disso, o que ocorreu ontem mostrou que não há solução, que não orar para São Pedro, para o problema das enchentes, que castiga os moradores desde que o samba é samba. Eu comemoro e lamento que esse caos não tenha acontecido na época do Pan. Porque, só assim a máscara de bom administrador do César Maia cairia na hora oportuna. O que me incomoda é que ao invés de aceitar a falha, o calvo de jaqueta fica minimizando o problema e jogando a culpa na Cedae, que é estadual. Ele foge da raia e ainda subestima a inteligência do povo (essa frase serve tanto para esfera municipal quanto para federal).
Pelo menos, o episódio de ontem serviu para uma coisa: mostrar aos eleitores que é preciso avaliar bem a proposta de governo de cada candidato. Não basta abalizar a proposta em um só aspecto. Não basta dizer que lutará contra a violência, que melhorará os hospitais e tudo mais. O Rio precisa de um guerreiro que não se omitirá na batalha contra os problemas históricos de infra-estrutura da cidade como enchentes, crescimento desordenado de favelas, saneamento, trânsito, poluição… Certamente não há político com esse perfil no Brasil, nem na esquerda nem na direita. A solução esta além da disputa entre as duas ideologias. Enquanto o bom samaritano não aparece, continuaremos andando com sacos plásticos nos pés, colete à prova de balas no peito e cinismo nos olhos fingindo não enxergar a degradação do Rio e do Brasil.

Lucas

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Os laranjas

Guilherme Zarvos no livro "Zombar", zomba, achincalha, puxa a orelha de Arnaldo Jabor e Elio Gaspari. Resolvi seguir os passos Zarvianos e fazer o mesmo.
Outro dia me aparece o Jabor, enjoado, egocêntrico como de costume, no Jornal da Globo, criticando o DEM por fazer oposição fechada contra a CPMF. A tucanice de Jabor é constrangedora, mas uma coisa não se pode negar: sua fidelidade. Até agora, quando o PSDB vai fazer mais um de seus papelões históricos, aprovando sem ressalvas a prorrogação da CPMF, Jabor não os abandona. Vai afundar junto.
Já Elio Gaspari é um caso perdido. Para ele, o que importa não é estar certo ou errado, é "parecer isento". Ao bater, um dia no PT, outro dia no PSDB ou DEM, ele cria em torno de si uma aura de "imparcial", "descomprometido" que pode impressionar os impressionáveis. Não caio nessa. Gaspari é tucano enrustido, mas quer dar uma de santa do jornalismo. É uma pena. Escreve bem pra burro, mas de burro não tem nada.


Dan

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Tiro ou Livro ?

Na semana passada a imagem de policias num helicóptero matando dois traficantes desarmados da favela da Coréia esquentou o debate sobre segurança pública no Rio de Janeiro. É claro que eu como cidadão, cansado da violência que desvaloriza a cidade, senti-me vingado pelos policiais. A maioria da sociedade comemorou ao assistir aqueles bandidos, fugindo como lebres assustadas, serem abatidos diante das câmeras. Só que comemorar esse tipo de atitude do Estado é uma sandice. O que ocorreu foi uma execução sumária de dois supostos bandidos. Matar uma pessoa desarmada é contra a lei e também é proibido em tratados de guerras internacionais. Embora eu ache que bandido tem que morrer mesmo, é de se esperar que o Estado cumpra a lei. Se o Estado não dá o exemplo, quem irá dar?
Há quem discorde dessa política de enfrentamento ao tráfico. Muitos dizem que a solução para a violência é a educação, eu concordo. Só que para desorganizar o crime organizado é preciso trabalhar em várias frentes. Uma delas inclui essas operações sanguinárias da polícia – que servem para minar o poder de fogo dos bandidos. Com educação conseguiremos (espero) acabar com a violência. Mas devemos lembrar que em outros governos (lê-se Brizola em diante), quando a educação era prioridade, os bandidos tiveram sossego suficiente para organizar essa rede complexa de comércio de drogas e reunir arsenal iraquiano de armas. Então concluo que só educação não basta. Pra não dizer que não falei de flores, nem de Tropa de Elite, acredito que o filme, mesmo com seu discurso simplista (e não idiota), mostrou que o poderio de fogo do tráfico é grande e que se ele não for combatido agora o que será do Rio em dez anos?

Lucas

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Sempre sobra pro xerife

No último texto, o camarada Júlio fez um gracejo com a simpática figura do xerife. Nos filmes de bang-bang, nas históras do Zorro e do Tex e em toda a mitologia do velho oeste, o xerife sempre foi ridicularizado, representado como um senhor barrigudo, de bigodes fartos e um tanto idiota, que corria atrás dos heróicos bandidos com sua estrela no peito e uma pistola enferrujada. No final, sempre sobrava pro xerife. Era uma forma sutil e até inteligente de depreciar a lei, o estado, e exaltar a rebeldia romântica. Mas depois que o discurso carola da esquerda chique tomou conta do debate, com sua falta de humor e inspiração, o outrora atrapalhado xerife tornou-se o monstro, o carrasco, a máquina de punir que “não pensa no social” e só quer “prender, matar e destruir”. O que era uma crítica mordaz e descomprometida ao status quo, tornou-se “científico”, com o surgimento de inúmeras teorias que colocavam o xerife e a polícia, como meros serviçais do estado burguês. O xerife passou a ser o símbolo da “dominação burguesa”. Sua história se confunde com a história do pensamento socialista- da utopia para a “ciência”. Pois muito bem. Não tenho muito apreço pelos “xerifões” de que Júlio falou:. Wagner Montes, Denise Frossard, Àlvaro Lins, Jair Bolsonaro( não foi citado, mas é uma batata quente que sempre cai no colo da direita decente).....todos me parecem muito toscos, despreparados, corruptos, demagogos...mas a triste constatação é que não é por isso que a esquerda festiva abomina estes senhores e senhoras. Corrupto por corrupto, demagogo por demagogo, tosco por tosco, despreparado por despreparado, o Lula também é. O Mercadante também é. O Chávez também é. A diferença é que estes não curtem muito a lei, a democracia, enquanto os xerifes acima citados cometem o crime gravíssimo de....defenderem a lei e o estado democrático de direito. Ao que me parece, a esquerda odeia o Wagner Montes pelo motivo errado. Ela o odeia por aquela que seja, talvez, sua única virtude: fazer, publicamente, diariamente, a defesa da polícia, das leis e das instituições democráticas.


Dan

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O Rio precisa de um xerife

O título acima é o slogan do provável futuro prefeito do Rio de Janeiro, Wagner Montes. Ele mesmo. Aquele que apresenta um programa na Record e usa bordões como “Minha poliçada”; “Escrachaaaa”. Segundo pesquisa recente, ele aparece em primeiro com 20% das intenções de voto para a Prefeitura do Rio.
Esse predileção, a meu ver, é efeito direto, entre outras coisas, do Tropa de Elite. Pode não ser ter sido a intenção do diretor, como de fato não foi, mas que aflorou o sentimento na sociedade de que o Bope, o “caveirão” e o velho discurso do “bandido bom é bandido morto” são a solução para a violência da cidade, é inegável. Exemplo disso é a grande venda de capas para celular no Centro da Cidade e a exaltação, até em tom de brincadeira, mas que acaba ficando no imaginário popular, ao Capitão Nascimento e às musiquinhas do Bope, tipo “corta e faqueia 02”; “botamos corpo no chão(...)”, e mais tantas outras que são ouvidas em qualquer canto da cidade. Até por isso não consigo engolir essa tese de que o filme é ficção.
Esse discurso burro e simplista de que a violência só pode ser coibida com mais violência vem levando diversos policiais a cargos políticos nos últimos anos no Estado do Rio. Isso é sintomático e mostra como a população acha que vai resolver o problema que a aflige. Vide Álvaro Lins, Marina Maggessi e Marcelo Itagiba. Não por acaso, TODOS esses foram envolvidos em escândalos de corrupção, posteriormente. Esse mesmo discurso da tão falada “Segurança Pública” levou Denise Frossard para o segundo turno. Ela, por sinal, é o exemplo mais evidente da limitação dessas “autoridades policiais” . Nos debates da última eleição, ela demonstrou não saber nada de Economia, Saúde, Educação e outros serviços fundamentais, que as pessoas não enxergam, mas que estão diretamente ligados à questão da violência. Mas quando o assunto é invadir o morro e matar o quanto for necessário, no entanto, ela não pestanejava.
É óbvio que a questão da Segurança Pública tem de ser prioridade no Estado do Rio. A polícia tem de ser eficiente, ganhar melhor, invadir morro mesmo e até matar quando for preciso. Mas ela é tão importante quanto a Educação, por exemplo. Até porque, só através dela, poderemos discutir racionalmente temas relevantes e intrínsecos à violência como legalização das drogas. Por isso não podemos eleger pessoas com essa limitação.
Argumentos como o do Daniel, de que a culpa não é do filme, mas sim da sociedade que é ignorante (infelizmente), são plausíveis. Mas, acho que quem faz Comunicação, ainda mais para a massa, como é o caso do filme, tem de saber a realidade em que está inserida e o impacto que vai causar tal mensagem.
Como dito acima, não tenho a menor dúvida de que o efeito “Tropa de Elite” fará com que mais candidatos com essa bandeira sejam eleitos vereadores no ano que vem, e Wagner Montes, sem dúvida, será um nome fortíssimo à Prefeitura. Já o seria sem o filme, mas com ele, vai ser mais ainda. Se mudar o slogan para “O Rio precisa de um Capitão Nascimento”, então, é eleito no primeiro turno.

Júlio

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

As rosas não falam

“Subo nesse palco
Minha alma cheira a talco
Como bumbum de bebê
De bebê”



“Se ela dança eu danço
Se ela dança eu danço
Se ela dança eu danço”



“Você foi mó rata comigo”

Por essas e outras, me inclino cada vez mais para a música instrumental. Nossos artistas não têm muito a dizer. Acaba de morrer Paulo Autran. A porção de artistas com algo a dizer fica ainda mais reduzida. Seria ótimo se quando algum artista abrisse a boca, ouvíssemos, em vez das bobagens de sempre, uma sonata, um solo de piano ou quem sabe a nona sinfonia de Beethoven . Seríamos melhores se emitíssemos só sons, músicas e não palavras.
Para quem anda pensando assim,como eu, vale a pena conferir o trabalho de Carlos Malta, mestre do sopro e da performance. Seu show é um show, uma experiência sensorial sem igual. Mas palavras são só palavras, nem chegam perto de descrever o que acontece neste espetáculo do qual elas, as palavras, não fazem parte. O máximo que posso dizer é: vai lá, ver de perto o que esse cara faz.

Dan

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Ascensorista

Arrisquei-me a escrever um conto. Ei-lo:

Ela é ascensorista do prédio em que ele trabalha. Ele chega sempre às 8h57m para esperar o elevador, que o leva até o 22º andar. Às 18h ele sai. Ela admira sua pontualidade, que começa o serviço às 9h. Por sinal, ela admira tudo nele. Ele, porém, não sabe, porque ela é tímida, muito tímida. Tudo o que ela gostaria era chegar para ele e dizer da sua admiração, ou melhor, atração (desejo). O elevador nunca está vazio, é a “hora do rush” no edifício comercial. Há sempre, no mínimo, umas oito pessoas. No máximo, 14. Dentre essas, uma pensa numa outra que está naquele mesmo espaço. Enquanto as outras pessoas pensam, possivelmente, no trabalho que está prestes a se iniciar, na conta que tem que pagar no banco ou o que vai comer no almoço, ela pensa nele. Só nele. Naquele dia, porém, ia ser diferente. Ela revelaria tudo. Da sua admiração, desejo, paixão.
Deu certo. Ele topa. Eles começam a sair. Direto.
Quarta-feira, mais um dia de trabalho, ele sai às 18h. No dia seguinte, 8h57m, ele não chegou ainda. Estranho. 9h, 9h10m, nada. “Não deve vir mais hoje, está doente”. Não vai, bem como no dia seguinte. E na semana seguinte...
Moral da história: O elevador não transporta só de um andar para o outro. Ainda mais para uma ascensorista.

Júlio

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Mpb de hoje ou de ontem ?

Gosto musical não se discute, cada um tem o seu. Mas uma coisa é certa: ninguém escuta as mesmas músicas a vida toda. É questão de fase. Às vezes você quer ouvir coisas mais antigas, ou mais tristes, ou até música sem voz, só instrumento. Vamos direto ao ponto. Cansado das que vinha escutando, decidi baixar coisas novas. Digo novas no sentido de inéditas para mim, não coisas modernas. Enfiei-me no mundo virtual à procura de novos sons. Nada de letras complexas e inteligentes.
Queria algo que não me remetesse à reflexão alguma, porém, que me fizesse bater o pé e tamborilar os dedos. Tanto procurei que achei. Novos Baianos. Fiz o download do cd “Acabou Chorare” no meu capenga e guerreiro micro. Ele tem mais música do que qualquer outra coisa. Aguardei o download com paciência de quem espera um prato de comida.
Pronto, baixou. Nossa, que som. Que estilo. Uma batucada frenética. Dá pra perceber a quantidade de instrumentos usados. Em suma, sensacional. Formado por Baby Consuelo, Moraes Moreira e sua trupe, os Novos Baianos mesclavam vários estilos num só e com uma propriedade que me agradou ainda mais. O sotaque. Muito bom.
Quem lê esse texto deve questionar sua finalidade dele. Eu me adianto respondendo que o objetivo é justamente esse, indicar um cd. Eu costumo ouvir coisas mais antigas já que a música popular brasileira atual está capengando. Antigamente existiam grupos de vários artistas – o que valorizava o som.
Pego meus lps e vejo que em uma porção de discos havia faixas com participações especiais. Por exemplo, num disco do Gil tem faixa com a participação do Caetano. O barato é que do lado da faixa vem escrito “artista gentilmente cedido por tal gravadora”. Participar de discos dos outros era bastante comum naquele tempo.
Hoje, há uma procura maior pela carreira solo. A lei do cão prevalece. Não ajudo ninguém porque ninguém me ajuda, é o que dizem. Em minha opinião isso é culpa do mercado que vende um nome, uma marca, ao invés de uma banda ou conjunto. Não que no passado não ocorresse abandono de banda. Mas eu acho que antes havia uma troca maior entre os artistas. Freqüentavam os mesmo lugares. Pensavam parecido. Eram ativos politicamente. Era possível dizer que existia uma massa artística, homogênea em suas idéias.
Um exemplo mais que ilustrativo dessa lei do cão é o do Seu Jorge e do Farofa Carioca. O Farofa era uma “big band”, dezenas de artistas e instrumentistas, cada um fazendo o seu, no final o som ficava magnífico. Foi o Seu Jorge sair que ela acabou no ostracismo. Então, alguém diz: “Ele era o líder, sem ele a banda não seria nada”. Concordo e discordo. Se não fosse a qualidade musical do Farofa, hoje em dia não saberíamos a diferença entre Seu Jorge e Seu Zé. Com o Planet Hemp aconteceu a mesma coisa. A banda alternativa deu lugar a uma carreira solo de popstar. É triste.
Escrevendo esse texto me dei conta de que nenhuma banda ou artista que faça música de verdade, de qualidade, foi lançado no século XXI. Planet, Farofa, O Rappa, Los Hermanos, Natiruts, Raiumundos, Lenine, Pedro Luiz e a Parede, Paulinho Moska, Nação Zumbi, Marisa Monte, entre outros, já existiam no final da década de 90. Pensando aqui, não consigo me lembrar de alguém que ingressou na carreira musical depois do ano 2001. A tão reconhecida Mpb está definhando. Espero ansiosamente que ela se reerga.