segunda-feira, 30 de março de 2009

Assim falou Bial

-Dan-


Pedro Bial cita Winston Churchill para os confinados da casa do Big Brother: “ A verdade numa guerra é tão importante que deve ser escoltada por um batalhão de mentiras”. Churchill sempre me faz lembrar do jornalista Milton Temer, que, demonstrando a forma mais genuína de bucefalidade tascou, em um programa de TV “Churchill não passava de um imperialista”. Milton Temer me faz lembrar das pombas da paz que condenam todas as guerras mundo afora, e me faz lembrar do provérbio israelense “ as pombas fazem a guerra, os falcões, a paz”. Pombas me remetem a Chamberlain e Daladier, que ao assinarem o Tratado de Munique com Hitler escolheram, segundo Churchill, “a desonra à guerra”. Pedro Bial, assim como Churchill, escolheu ir à guerra e levar um pouco de história aos BBBófilos, um tipo de gente que, na média, pensa ser Churchill uma marca de Uísque barato, mas será lembrado como um ser estranho e efeminado que citava Drummond e Rilke em um programa de TV voltado para o Homer Simpson. A próxima investida do apresentador poderia se dar nos expressos populares, como um Meia – Hora. Em um arroubo poético, sairia a manchete: “ Arautos da Vila Vintém admoestam honestos cidadãos”. Já vi algumas vezes Bial vestindo a camiseta do profeta Gentileza, um traje muito apropriado por sinal. Posso ver Bial, enlouquecido pela fama, com enorme barba amarelada, segurando um cajado na Praça XV, esguio, olhos fundos, gritando: “ Mário Quintana disse que o fim está próximo!!!” “ Os anjos tocarão as trombetas e Jesus voltará no dia do paredão final!!”

sexta-feira, 20 de março de 2009

Um tour pela lógica

-Dan-


Nada melhor do que a objetividade, a argumentação clara e direta e a honestidade intelectual, qualidades do papa Bento 16, estupidamente atacado no início de seu papado por ter ingressado por exigência do regime nazista, aos 14 anos, na juventude hitlerista. As qualidades citadas ali no começo passam longe da canalha que tentou jogar o nome do papa na máquina de sujar reputações, canalha esta que tem pedigree e denominação legal: são as influentes correntes “liberais” da igreja, leia-se a Teologia da Libertação, que em sua fúria populista, não mede esforços para anular seus adversários. Em sua recente visita a África, o papa reafirmou de maneira clara o posicionamento da Igreja Católica em relação à AIDS: é contra o uso de preservativos e a favor do sexo monogâmico. A turba ensandecida, ávida por um linxamento moral, não demorou a mostrar as garras na imprensa mundial, acusando o papa de “estimular o sexo de risco” Pelo menos em uma coisa este argumento é claro: em sua desonestidade. Se a igreja é contra a camisinha, por outro lado, recomenda o sexo monogâmico e a castidade até o casamento. Seguida esta receita, não haveria AIDS no mundo. Mas os detratores da igreja ficam apenas com uma metade da receita, com aquela que lhes interessa, a da condenação da camisinha. Fica parecendo então, que a igreja estimula o sexo de risco. É um truque barato, rasteiro, que um punhadinho de lógica desmonta em meio segundo.Outro exemplo de argumento sorrateiro, este até um pouquinho mais sofisticado é do ministro Temporão, que volta e meia afirma que aborto é um problema de saúde pública. Parece muito correto o argumento, à primeira vista, mas não passa de uma enganação, de um embuste “progressista”. Problema de saúde pública é operação de catarata, que o SUS devia garantir para a população. Aborto é uma questão legal e moral. Nas entrelinhas da fala do ministro jaz a idéia de que “ninguém mais se importa de que o aborto é proibido”. Ou de que “essa lei não pegou, vamos ignorá-la”. O fato, no entanto, é que o aborto é uma questão legal ( é proibido na maioria dos casos) e moral ( a sociedade entende que o aborto é um crime). A lei pode ser alterada, é claro, de forma que amanhã ou depois, as clínicas clandestinas sejam legalizadas e a mocinha possa fazer um aborto no horário de almoço, mas algo me diz que isto está um pouco longe de acontecer, porque, vamos, vem comigo filho, segue meu raciocínio, não me lembro de ouvir algum parlamentar sugerir alteração na lei (talvez o Gabeira, enfim...) e se nossos estimados políticos não tocam no assunto é porque não rende votos e se não rende votos é porque me parece que a sociedade não aceita o aborto. Portanto, só posso concluir que o Sr Ministro Temporão, ou é um rematado ignorante, ou é, ele mesmo, uma questão de saúde pública.

Celebridade praiana

Nao queria ter contado mas fomos parar naquela boate pela presenca ilustre de uma celebridade entre os veranistas. Do qual tinhamos ido a casa na praia mais badalada da cidade e, por forca do destino, feito uma verdadeira amizade. Nessas horas em que uma comunidade de donas de casa param durante uma hora e meia em nome da teledramaturgia brasileira, nós, cariocas, que estamos muito proximos das celebridades no dia-a-dia, em festas e eventos é quando ficamos a um passo do horario nobre.Digo um passo literalmente; pra falar a verdade, um braco de um seguranca da area vip, se nao é a gloria - o que aconteceu neste caso - quando conseguimos ficar la dentro, entre os vips. Ai sim, voce esta no horario nobre. Olhei para os lados para ver se tinha alguma coisa errada, ao que me deparo com a primeira atriz conhecida. Ela dancava com a maior energia, balancava o cabelo pra cima e pra baixo igual aos caras do iron maiden, o dj mandando ver no BARRY WHITE e, o que é estranho, foi um alivio quando percebi que ninguem ia me colocar pra fora por estar pensando merda sobre os outros. Ao me ver ali entre os mais consagrados artistas da minha geracao bebendo e falando besteira, nao pude conter minha simpatia e curiosidade, fui tentar claro um approach entre as estrelas. Uma das mais famoas era Gertrudes Malafaya, da novela das 6. Ela me fazia delirar nos aureos tempos de "Com a Corda no Pescoco" ou entao - nunca vou esquecer - quando ela apareceu nua na sessao de fofocas de uma revista sobre politica, em meio a escandalos dos parlamentares. Dizia isso para um amigo no bar quando avistei Gertrudes, parecia que tinha acabado de sair do mar e vinha em minha direcao numa manevolencia de garota de ipanema. Se aproximou do garcom e pediu um sex on the beach. Eu aproveitei para oferecer um mas ela preferiu conversar antes.Conversamos durante horas, de maneira intensa e divertida, um tipo de papo que te leva pra algum lugar no final, de preferencia na praia, mas ai eu falei que estava escrevendo um livro e ela nao entendeu, disse que nao estava interessada. Ainda me disse mais, que, por coincidencia, estava a procura de sua personagem numa peca sobre a relacao espacial entre os livros e as mesas de centro no ambiente urbano. Nao que eu queria decepciona-la, mas o que eu gostaria mesmo era de ter na minha mesa de centro, a Gertrudes Malafaya. É impressionante como o pessoal do showbusiness adora falar sobre trabalho. Dizem que tem profunda relacao com a sua proxima obra e arrematam um bloquinho para anotar cada palavra. Sempre me opus a falar sobre trabalho em ocasioes sociais - ainda mais num lugar descontraido onde nos estavamos, tocando musica boa(barry white ainda), nao é pra ficar ocupando a cabeca com aporrinhacoes.Tratei de ir em direcao a pista, aquele papo de trancedencialismo e arquetipos sociais ja estava me fatigando, foi ai que eu dou de cara com quem: Andrey Savagi, galã da pornochanchada da decada de 70. Havia alguma coisa de errado com ele, percebia em Andrey um ar meio abatido, andava pelos cantos do balcao tomando seu wisque, sem alguma estirpe que possuia no anos rebeldes, de um exmilitante pro democracia, e a inteligencia e perspicacia com que se sucedia nos debates. Quando cheguei mais perto vi realmente que estava bebado. Chamava a atencao dos colegas e causou vergonha para a classe que sempre prezou pela falta dela. Eu como humilde fan fui la tentar ajudar mas ele nao quis, a revolta por nao ter mais o brilho de outrora misturava-se com o orgulho de ser uma lenda viva do cinema brasileiro. De supetao, Andrey Savagi teve uma crise e partiu pra cima de mim com dois copos de wisque nas maos. Eu corri deseperadamente, nao sabia se ficava preocupado por ter um bebado querendo me pegar ou se lisongeado por ser uma estrela como Andrey Savagi.Eu consegui me livrar mas Gertrudes acabou levando a sobra - os dois copos de wisque, mais precisamente. Eu imaginei quando resolveram dar drogas de graca para os convidados, mas nao sabia que ia sobrar pra mim, quer dizer, nao exatamente. Os dois copos arremessados por Andrey Savagi deixaram o rosto de Gertrudes Malafaya completamente dilacerado, ainda bem que os paramedicos chegaram em um instante, pareciam que ja estavam ali dentro esperando Andrey jogar os copos. Eu fiquei desolado com a cena, uma parte de mim que havia sido construida ali naquela boate foi embora com Gertrudes e os paramedicos. Nunca estive tao perto de uma celebridade como ela, e agora nunca mais vou ve-la da mesma forma. Sua aparencia nao sera a mesma, e nem a cutis de pessego que nutria desde jovem. Para sempre ficara marcado na minha memoria o econtro com a musa dos vespertinos semanais.

João Vicente

domingo, 15 de março de 2009

Fim de semana em Búzios

-joão vicente-

Viajar com os amigos é sempre bom. Ainda mais quando um deles tem uma casa em Buzios, no litoral norte do Rio de Janeiro - o destino de todo carioca classe media de ferias no Rio. Se pudessem descobrir outro paraiso tropical aqui pelas cercanias, ou baratear as viagens para o sul, mas ter apenas um lugar onde vá toda a populacao classe media de ferias no Rio, que vem aumentando a cada ano, nao é de se alegrar nenhum regime chines de controle de natalidade. Buzios é um desses paraisos tropicais que sao cobicados e invadidos, não só pelos brasileiros, mas pelos estrangeiros. Lá se encontra mais nacionalidades do que na periferia de Los Angeles. Nao me surpreenderia, portanto, daqui a alguns anos, um espanhol naturalizado se candidatar a prefeitura e implantar, como primeiro decreto, feriado municipal de San Pablo de las Missiones. Mas enquanto nada disso acontece, volta e meia, reunimos os amigos para um fim de semana na cidade. Para alguns, passar um fim de semana em Buzios é um sonho. É como ir para o Big Brother: ninguem quer ir embora. E é nestas horas que os valores sao subvertidos. Ao contrario do Big Brother, em Buzios os parentes e amigos distantes aparecem antes de chegar na casa - para que eles possam ir juntos. Alias, a casa tem todos os requisitos que preenchesse, comecando pela localizacao: de frente para a praia rasa, dita uma das primeiras a serem habitadas pelos andarilhos da decada de 70, que iam se fixando na regiao. Ali, onde os primeiros sinais vindos da arrebentacao indicavam mais uma tarde esplendorosa, onde o por-do-sol confundia-se com a aurora, a vida passava ao largo, mais precisamente pela ponte Rio-Niteroi. Podiamos ter aquela famosa sensacao de serem mais longos os dias, a praia ia ate onde os olhos alcancavam, quando o crepúsculo sombreava a pele e ia embora. Mas de um jeito ou de outro, a vida que passava ao largo passa por aqui tambem, na verdade parecia ter ido à Bahia e voltou, e a gente tem que ir lá, atende-la na porta:- Olá, seu Pedro (era o nome do dono da casa), meu nome é Josiel. Sou do carro pipa aqui da regiao, e vim lhe avisar que aconteceu um probleminha aqui na doca do poco artesiano, nao ta dando pra puxar a agua nao viu? olhe, é mais facil o senhor nao tomar banho hoje e nem ligar nenhuma torneira porque senao pode forcar a saida de agua e entrar ar, ai so daqui a duas semanas pra consertar o prejuizo, nao sabe?Muito intrigado, Pedro se perguntava, primeiramente, aonde que os moradores de Buzios arrumavam agua numa situacao dessas. E, em seguida, de onde é que vinha todo aquele jeito diminutivo pra tragédias, que ja acabou com o seu final de semana.- Olha, a gente pega agua na nascente do rio aqui na regiao, mas nao tem nada nao, eh soh umas duas horinhas de trilha. Quanto a sua segunda pergunta, acho que eu nao sei nao senhor. deve vir da minha familia la de juazeiro, nao sabe?Em se tratando de tranquilidade, a vida, em cidades litoraneas como Buzios, nao so passa tranquila como passa enferrugada pela maresia. Todos parecem caminhar pelas ruas como se fosse domingo. Deve ser por isso a proliferacao de padarias e mercearias nessas cidades, ja que domingo é dia de tomar cafe com leite e um pao com mortadela, com ou sem manteiga, no final da tarde. O dia só muda quando o sanduiche vem fatiado pelo cerol da linha da pipa que um muleke despudorado soltava na frente da padaria. Isso me fez lembrar da epoca em que meu tio tinha uma casa em Ponta Negra. Era sempre uma aventura sair na rua em Ponta N egra, se voce nao estivesse de carro, era comum ser dilacerado pelo emaranhado de carreteis e linhas cobertas de cerol das pipas. Para entrar na padaria, por exemplo, tive que regredir aos meus 8 anos e enfrentar uma enorme cama de gato na calcada. Voltando a casa, uma questao nos importunava como a quem sofre por antecipacao. A agua era escassa - havia alguns goles na bica da torneira da cozinha - e se aproximava a hora da grande noite: uma boate local nos havia destinado alguns convites para uma festa fechada onde so iam artistas famosos e consagrados, da televisao e do cinema. Ate hoje eu ainda nao entendi como o convite veio parar nas minhas maos, mas, certamente, a consagracao nao viria por uma boa causa. Enquanto pegava o galao do bebedouro para me banhar, um dos presentes, com o peito em riste, sugeriu que invadissemos a casa do vizinho que viajou para cabo frio. la havia um chuveiro perto da piscina, era so pular o muro da casa. Ninguem queria perder a festa, claro, mas quanto a proposta de invadir o vizinho, o pessoal se dividiu. A outra metade teve que pegar o carro e ir ate um desses condominios que viram clubes la em ferradurinha, ou seja, do outro lado da cidade. Era compreensivel que quando eles chegassem lá fizessem uma sauna, nao e? por que nao? Se fossemos pessoas mais centradas, teriamos é ficado em casa, fazendo macarrao e tocando violao. Mas a chance de ver de perto atrizes de peso - e sem peso - do cinema nacional nao nos fazia desistir da empreitada.(continua no proximo post)