sábado, 19 de dezembro de 2009

Eco-chatos

-Dan-

Durante um tempo eu gostei muito de economia. Pensava então "sou um idiota, por quê não escolhi ser economista?". Passava os dias encabrunhado, com inveja daqueles senhores graves, de terno e fala mansa, que discorriam sobre PIB, gastos e investimentos. Li alguma coisa a respeito, uns livros de macroeconomia, e eram todos meio chatolas, mas não foi isso que abalou minha relação com a economia. Foram os eco-chatos. Não os eco-chatos dos peixinhos e das árvores, mas os eco-chatos do DowJones.
O líder dessa seita chama-se Ricardo Amorim e bate ponto no Manhattan Connection. Mas ele é bonitão, bem sucedido e inteligente, então disfarça bem sua eco-chatice. Mas faz basicamente o que todo eco-chato faz: explica tudo, desde a revolução francesa até a derrota do Yankees através da economia.
Ser mais realista que o rei é a atividade principal dessa gangue. Mesmo que para isso atentem contra noções básicas da lógica. Por exemplo: "A guerra contra o Iraque foi movida pela grana!!" "Petróleo!"
Eu argumentei, quando ouvi isso pela primeira vez, que o Iraque rendia lucros altíssimos aos EUA antes da guerra, muito maiores que agora, quando o governo iraquiano licita poços. Acho que o eco-chato entrou em transe.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Em favor da banalidade dos fatos banais

-Dan-

É só puxar o fio que aparece o novelo. Newton procurou uma sombra e descobriu a gravidade. Arquimedes foi tomar banho e – Eureka – descobriu a lei do Empuxo. Cabral foi atrás das Índias e deu no Brasil. O fato mais banal pode esconder um mundo por trás. Digo isso porque as pessoas são muito previsíveis, e é fácil saber como elas são a partir de informações a princípio sem muita importância.

Exemplo Gastronômico
Pedro gosta de arroz integral. E de legumes orgânicos. Pedro, portanto, acredita que a Monsanto enche suas beterrabas de veneno. Ele não gosta do agronegócio e sonha ter uma horta em sua casa em Rio das Ostras. Se o sonho de sua vida é ter uma horta numa casa em Rio das Ostras, Pedro deve ser professor.

Exemplo Literário
Dr. Osmar acabou de ler “A Vida dos Doze Césares”. Necessariamente, o doutor tem barba grisalha e nuca vermelha. O colete xadrez (alguma dúvida quanto ao colete?) denuncia o conservadorismo de Dr. Osmar, que vai ao Gero às terças com seu amigo, o coronel reformado Borges. Ambos se divertem maldizendo o PT e o maitre.

Exemplo Cinematográfico
Eu gosto de Terra em Transe, o que supõe que eu seja bastante brasileiro e tenha modos toscos à mesa. Tenho traços indígenas. Quando falo, falo encostando. Bebo cachaça e como galetos de padaria. À noite, ronco como um urso.

Concluindo, a ignorância tem lá suas virtudes. Se não fosse a curiosidade, Cabral não teria descoberto o Brasil, e eu não teria descoberto o urso que tenho em mim, e o Cazuza não teria pago a vultosa conta do analista.

domingo, 25 de outubro de 2009

Sorte

crônica inciada com uma

frase de Vinicius de Moraes no

livro "As cem melhores crônicas brasileiras"



Eu sou um sujeito que, modestia à parte, sempre deu sorte aos outros. Mas quero deixar claro: nunca fui do intuito de ver ninguem à mercê da sorte, que dirá em função da minha.

Digo isso pois foi entrando num bar na Lapa, que não sei se famigeradamente ou pela profecia divina, se chamava “Bar da Sorte”. Logo de cara me corrigi: É… De fato, a frase que inicia a crônica realmente faz sentido. Estava com alguns amigos que até me parabenizaram pela escolha: “Um bar? Com nome de sorte? Cervejinha gelada e papo pro ar? É a benção!” Agradeci à todos, levantando como se fosse o prefeito da mesa. Meus amasiados contentes, fornecidos, satisfeitos.

Até entrar no bar um rapaz de porte alto, meio maltrapilho, fazendo a seguinte afirmação ao garçon: “Isto é um assalto!”


joao vicente

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Meu Daguerreótipo

-Dan-

Pode ser do governo, da oposição, eleito, suplente, do Rio, de Minas, ou de qualquer lugar, não importa. Todo dia eu tento esquecer o nome de um senador. Além da satisfação pessoal que este esforço traz, há também um componente de vingança. Nada pode ser mais ofensivo para um político do que o ostracismo. Custou-me alguns meses o esquecimento do nome daquele senador - o careca, gordinho, da oposição. E foram muitas noites sem dormir até que qualquer vestígio do nome daquele líder do governo, o da empreiteira, desaparecesse da minha memória. No vazio deixado por esses nomes, pus algumas palavras engraçadinhas, a saber: daguerreótipo, exomologese, manirroto. Agora nunca me esquecerei, ao contrário dos senadores , que exomologese é uma confissão pública. Uma penitência. Meu objetivo, a princípio é esquecer os nomes de todos os senadores e deputados,do Brasil e do mundo. Depois, dos presidentes. Mas não para aí. Meu real objetivo é esquecer os nomes e as figuras. Os significados e os significantes. Se há um atalho para a felicidade, certamente ele passa pelo esquecimento das imagens dos políticos, com suas barrigas molengas se esbarrando em abraços traiçoeiros, comendo empadinhas em convencões, cujos detritos alojam-se, via de regra, nos fiapos tingidos de seus bigodes. No lugar, porei imagens mais agradáveis, de crianças pulando cabra-cega com pôneis, ou de anjos tocando harpa no arpoador. Para isso, já conto com meu daguerreótipo, um aparelho primitivo de fotografia.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O dia em que vi o Rio pela primeira vez

Ah, este país vasto! Conheço pessoas de todos os tipos, regiões das mais distintas, saboreio todas as emoções e experiências humanas neste país idiossincrático. Percorrendo pelos diferentes lugares, falando com alguem que nao mora na minha cidade, me deparei com uma seguinte, monótona e preguiçosa afirmação, a de que "vocês, cariocas, nunca viram o Rio pela primeria vez".

Eu lembro muito bem a primeira vez em que vi o Rio. Foi numa tarde macia de domingo, voltara da casa da minha avó, após um almoço opulento, inebriado com a imagem da lagoa saindo do túnel Rebouças em direção ao Dois Irmãos. Foi a primeira vez também que lancei sobre mim um olhar solto de especificidades, bem proximo ao infinito de uma felicidade vazia, sem sentido, liberto das figurações culturais, do meu folclore nacional (e provinciano).

Vi e não vi, tive visões, porque as coisas como estão no mundo nos dão tédio. É preciso arrumar novos comportamentos para as coisas do mundo. E essa minha visao do Rio, da primeira vez em que o vi, foi transcendente, foi além de uma mera observação social, cotidiana. Eu vi a minha cidade pelos olhos das nuvens.

Dali em diante, me passou a acometer nos dias, este mesmo sentimento, de descobrir algo conhecido, encobrindo outros, desconhecendo o que era familiar, surtindo o prazer estetico da sublime natureza. A partir do dia em que vi o Rio pela primeira e única vez, me veio um sentimento fruto da certeza de que não voltarás no tempo. Mas eternizado com o legado do poeta, que descobre a primeira vez de uma palavra: saudade.


joao vicente

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Falastrões x Reservados

-Dan-

Era um psicoanalista, ou neurolinguista, ou mesmo um clínico geral, quem sabe, o que importa é que tinha o olhar mais bem-intencionado que já olhei, por trás dos óculos grenás, que lhe conferiam um certo ar informal e bonachão. Tinha, claro, bigode – grisalho- e uma simpática calva. Seria fácil imagina-lo meu bom escudeiro, ou vassalo, ou servo da gleba, em uma outra vida, na qual fosse eu seu cavaleiro, ou suserano ou senhor. Poderia ter sido também meu Alfred, fosse eu aquele Batman gordinho do seriado de TV. Mas era só um especialista em um programa de banalidades, que dava conselhos baseados em alguma homeopatia da alma, algum novo e surpreendente ramo da psicologia moderna. Ele dizia algo como: “Diante de um problema, fale!”. “Ponha para fora seus demônios”. Algo como “Se liberta, bem!”. Quem diria que por trás das boas intenções, dos óculos grenás, do bigode e até da mancha na testa que eu havia omitido, havia um terrorista. Sim, um terrorista, porque veja bem, incentivar as pessoas a exporem seus problemas e falarem deles para o taxista, para o padeiro, para os amigos e até para mim, se eu marcar bobeira, é uma forma de, atropelando as boas regras sociais que garantem uma convivência tranqüila entre as pessoas, disseminar o caos. É como estimular o espirro em um surto de gripe. Os profissionais da auto-ajuda têm o poder de criar uma legião de chatos e falastrões que pode vir a incitar em alguém um desejo adormecido de perseguir os chatos e falastrões, criando assim um racha na sociedade: de um lado, os quietos, tentando ler livros de filosofia sentados em pufes e do outro, os falastrões gritando, falando e chorando ao pé dos pufes, até o momento em que o quieto do pufe agride o falastrão e vice-versa e está instalada a guerra civil. Uma eventual vitória dos falastrões nesta guerra acabaria com os mistérios da vida, com a poesia, e até com o discreto charme da burguesia. Os casais discutiriam a relação na noite de núpcias, os porteiros dos prédios chorariam em nossos ombros à noite e o Dr. Lair Ribeiro seria eleito presidente.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

De como ir ao analista


ante-sala de psicanalista por si só ja é um ambiente propicio a conversa, pior se for silenciosa. quando muito, ouve-se dialogos insolitos como o que precedeu uma consulta, de que me arrependo ate hoje.

nesses lugares tem de tudo, mas principalmente jornalistas de grandes jornais e escritores de literatura fantastica, cujos esforços fazem com que o perecimento mental tenda a acelerar como banana no verao. estas figuras povoam as ante-salas, distribuindo a grosso modo seus comentarios irreverentes e petulantes.

a consulta foi de amargar mas a espera valeu o constrangimento. deu-se assim, um camarada chega pro outro, ambos na galhofa:

- dizem que a crise mundial ta precisnado de terapia

- é, acho que ela precisa se filiar ao greenpeace pra vê se acha um novo sentido na vida

- o sistema morreu né

- ah mas nos meros mortais nao! estamos vivinhos

- ainda bem que nao precisamos de nenhum sistema, ja basta nossas crises internas.

- voce esta falando das crises do senado e a do supremo?

- nao, falo interno no sentido de alma mesmo, nao que tenhamos que vender a alma pelo dinheiro, to falando de terapia

- terapia da alma?

- é, rapaz, acho que meditacao ta dando certo la no oriente

- sera que é isso que falta pra acabar com a crise?

- so pode ser...

- dizem por aí que essa crise é a maior balela, tem gente que ta ficando rico com essas balelas

- pelo menos ela serviu pra eleger o obama

- nao disse?!

(..)

- e a crise de 29?

- ih, essa aí foi a maior trapaca da historia do homem

- foi tudo mentira é?

- foi, e ainda atrasou a vida de todo mundo

- é mesmo...

- olha, que eu saiba, em toda a historia, só o estreito de bering pra atrasar tanto a humanidade como atrasou a crise de 29

- que gente esquizofrenica!

- fala baixo...

por Joao Vicente

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A fama de chuteiras


Alguem aí ja ouviu falar nos mártires palestinos que, muitas vezes, sao sacrificados ou se matam por um ideal? No caso aqui vamos falar do ideal da vitoria carioca no brasileirao. Nao dá né. Pessoal que fica jogado na praia todo dia, noites de arrematar, uma vida social digna de celebridade praiana, nao pode se dar tao bem assim nas obrigacoes do trabalho. Alias quem nao se da bem mesmo sao os treinadores do times cariocas, estes ai sao enforcados em praça publica, como bruxas da inquisicao mostrando a quem se atrever criticar a igreja ir para a fogueira.
Os tecnicos estao indo a fogueira para ninguem questionar o aspecto primordial das derrotas cariocas: o fato do jogador do rio ser mais do lazer e nao de trabalho. O sujeito treina 4 horas por dia, vai a praia, joga um futevolei, e no final do mes é uma bolada, uma bolada mesmo, como se tivesse ganho na loteria, só que todo mês. E em epoca em que o futebol cada vez mais se profissionaliza, se globaliza, o rio sai perdendo. o rio esta para o brasileirao, assim como o salario de um politico está para ele proprio.
Ha aí uma controversa situacao onde o trabalho nao esta relacionado mais a dinheiro. Só no Rio voce nao trabalha e ganha dinheiro. Eu, varias vezes ja me arrependi, e minha mae tambem, por nao ter virado jogador de futebol. Do flamengo é claro. Estudei nos melhores colegios, nenhuma escola publica, eu tenho que ir para a rede globo dos clubes de futebol.
Seria uma gloria no meu curriculo, daqui iria pra europa ou entao pra sao paulo, aí eu ia me dar bem, mas ia ter que trabalhar. Eu prefiro a europa mesmo que se ganha em euro e em 5 anos mais ou menos, eu junto 1 milhao e paro de trabalhar. Isso se eu nao tivesse nascido no nordeste, porque aí eu iria saber mesmo o mundo real de um jogador de futebol. trabalho, trabalho, pouco recurso, trabalho...
Ate cansa nós aqui do Rio repetir assim. Mas só repetindo para que prestemos atenção no problema que é nosso, e que o profissional de verdade, competente, coerente, nao acabe sofrendo por isso. Falo do cuca, coitado, que o admiro como profissional. Mas acaba passando maus bocados por causa de um bando de adolescente brincalhao que nao sabe o que faz com tanto dinheiro e tanta fama, assim como nao soube michael jackson, e nao sabe nenhum politico.

por Joao Vicente

sábado, 20 de junho de 2009

Motivacoes de ordem passageira


O cidadão morava no coracao da Nossa Senhora de Copacabana, rua tomada por camelos de um lado a outro, de todas as especies e iguarias. havia dias em que nao conseguia entrar em casa e ficava a perambular pela rua, fazendo hora, esperando o termino do furdunzo. olhava as vitrines das lojas, entrava numa livraria, lia um ou dois livros, quando dava por conta de que estavam fechando a livraria, corria para casa pois o horario comercial dos camelos co-incide.

e inside mesmo - nao arredam o pe da onde fincam o negocio pois podem perder o ponto. os mais peritos procuram se localizar perto de alguma lanchonete - ou da praca de alimentacao - deste shopping a ceu aberto. antes, para eles, fosse fechado, protegido da guarda municipal, que é porque se escondem embaixo de arvore, atras de banca, aonde der, senao saem correndo mesmo, a esmo, pela rua a fora, como zebras ameacadas. Um sinal de alerta é o estopim da debandada:

- olha o rápa! Alguem gritou.

- corre, maluco! corre, maluco!

E saiu todo mundo em disparada para nao sei aonde. Tomaram um cha de sumico - nao se vira mais nada. A calcada ficou erma. Chegando um policial da guarda, se aproximou e perguntou:

- Viu pra onde eles foram?

- quem?

- os camelos.

- vi nada. e nem quero ve-los novamente

Mas no dia seguinte, quando acordava e descia para comprar pao, um tropeco no primeiro pano estendido indicava que estavam la de novo, impassiveis, prostrados, nao adiantava, voltava tudo ao normal sempre. Resolveu entao tomar uma atitude com relacao ao entrave.

Chegando em casa, viu toda aquela gente feliz trocando moedas, produtos, especiarias. Um fuzue danado que tomou com cautela um estalo, e uma ideia brilhante pairou em sua mente. Foi adentrando no meio do gargarejo, se misturando aos demais. Se colocou numa posicao privilegiada e emendou:

- Aí, gente, olha o RÁ-PA!

Sairam todos numa disparada tao grande, mas tao grande que entrou em casa numa felicidade tamanha, sem nenhuma aporrinhacao. Conseguiu ate dormir mais cedo, sabendo que no dia seguinte teria que sair de casa antes do comercio chegar.

por Joao Vicente

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Um texto que abalará os alicerces do universo

obs: ler antes, em http://www.invernodejulho.blogspot.com/, o Real Valor das Palavras, do indômito aiatolá J.J.

-Dan-


As palavras têm força. Eu poderia enciclopedicamente enumerar casos e mais casos históricos em que elas tiveram papel importante em grandes mudanças, mas deixo isso pra você resolver aí com o google. O que o google não consegue é medir o exagero e a precipitação dos defensores do discurso e da diplomacia como principais armas de transformação social. Para início de conversa, qualquer ditadura, conhecendo o poder da palavra, passa a controla-la. É assim na Coréia, em Cuba ou no Irã. Ah, claro, o Irã não é uma ditadura, apesar de o Líder Supremo....ou Comandante Geral....ou Grande Buda Master....seja lá qual for o título, estar lá há....20 anos! Ele mesmo, o aiatolá Khamenei, um homem santo, um homem probo. Qualquer palavra dirigida a essas ditaduras é devidamente filtrada. O debate de idéias é útil na relação democracia-democracia., e praticamente inútil na relação democracia-ditadura. A palavra democrática está sempre em desvantagem. Olhando retroativamente, os discursos verdadeiramente históricos caracterizam-se pelo arrojo, pela ousadia. – por questionar aquilo que não se pode questionar. Da “Apologia” de Sócrates, ao “Eu tenho um sonho” de Martin Luther King, passando pelo discurso de Marcio Moreira Alves em 68, há sempre uma perspectiva de enfrentamento, de coragem.. Mas Obama inaugurou a era dos discursos históricos domesticados, bem-comportados, já que não é necessária muita ousadia para declarar “ Shallamallek. Estou aqui em busca(...).de tolerância e de dignidade para todos os seres humanos”. É mais ou menos o que um extraterrestre diria, antes de fulminar a terra com bombas de Nêutrons e pedir: “Leve-me ao seu líder”. O discurso de Obama no Cairo, uma coleção de obviedades repetidas mundo afora, inclusive por seu antecessor (ele mesmo, o Demo!) é considerado histórico pela imprensa pelo mesmo motivo que Bo, o cachorro de Obama, é histórico.É difícil, eu sei, aceitar que vivemos nos Tempos Desinteressantes,.como Hobsbawm, daqui a 5 anos, com 230 , tomando um café com Niemeyer (300), nomeará nossa época, em que nada de realmente novo ou relevante acontece. Aí, surge esse desespero pela grandeza, pela historiedade. Fatos medíocres – a fantástica redução de 0, 25% dos juros, a ameaçadora gripe dos porcos, as emocionantes rodadas comerciais da OMC, o discurso históóórico de Obama – ganham uma aura espetacular, que mal disfarça o marasmo incontornável dos nossos dias.

domingo, 7 de junho de 2009

O noivo desorganizado


Argemiro acaba de ser promovido no trabalho. Gerente financeiro da Fundacao leao treze, no centro da cidade. Obra galgada com esforço e dedicação. Muito de sua experiência como funcionario publico foi adquirida nos tempos de concursado da receita federal. O salário não era lá essas coisas mas o suficiente para manter o noivado estável, pois o fortuito entrave de um apartamento no leblon já o vinha deixando preocupado.
Foi herança do pai que também tinha uma bufunfa para receber das hipotecas atrasadas, das quais ja se davam por esquecidas. Um advogado da familia que, nas entranhas da Caixa Economica, descobriu sem querer o tesouro. No entanto o entrave: a bolada só sairia dos cofres públicos para o primeiro conjugue casado mais proximo do ente falecido. Qual não foi sua surpresa ao perceber que, filho unico de filho unico, a mae tinha morrido aos 16 anos logo depois de nascer, sem primos e alguns desquitados e que, portanto, o unico familiar com potencial para o cargo seria quem? Argemiro.
A nova vida de herdeiro e marido promissor prometia mudar, a começar pelas menininhas do escritório. Ele ja tinha enfileirado uma sequencia de baias das secretárias executivas e, pelo jeito, os happy-hours não iriam parar por aí. Porem, homem comprometido e com as deveras necessidades de engendrar um casamento, fazia-se serio sem perder os predicados moralistas, afinal ele nao queria mais passar a vida inteira na zona oeste tentando encontrar a mulher certa, queria era se mudar para o leblon com a errada mesmo.
Um belo dia, foi abordado pelo chefe. Achacou-o de maneira obscena, com toda a pompa que um bom funcionário do estado merece. Foi oferecido um fim de semana em São Paulo, para tratar com os os futuros patrocinadores da fundacao, na cidade. Gege - como é conhecido em casa - agradeceu a oportunidade e ficou encarregado de avisar a um amigo de extrema confianca, o Carvalho, do marketing. Com dois filhos pequenos e mulher gravida, Carvalho deveria repensar a proposta, ja que o cenario se configuraria em abandono-com-intenção-de-prejudicar-esposa-amamentando. nao quis nem saber e foi logo tomando as rédias da negociacao junto ao patrao, quer dizer, junto a patroa.
Entre as hipotecas atrasadas, Gege contabilizava algo em torno de 500 mil além do valor do apartamento. Com uma vida - e uma vista - dessa, sua futura mulher nunca teria que se preocupar com o tamanho da cozinha, ou com o que tampar o ar-condicionado para nao fazer barulho, escolher entre qual banheiro sacrificar para aumentar a sala ou fazer uma janela na parede da cozinha. Esse tipo de preocupacão deveria ficar para o homem da casa, que, as escondidas, organiza uma despedida de solteiro antecipada com os amigos. Mas o contato, entre a esposa de um e a noiva do outro, crescia com frequencia, salientando todos os entretantos dos respectivos, alem, claro, dos desvios de conduta. As duas pareciam estar em sintonia fina com os passos deles. Nem no Afeganistao conseguiriam se esconder.
Dia seguinte argemiro chega na empresa logo cedo, para encontrar Carvallho, enquanto que o dito cujo vem segurando a filipeta de um casa de streaptease em Sao Paulo. Pronto para vestir o abadá da folia, Argemiro reforca que aquilo nao ia dar certo, que o casamento e o enriquecimento repentino correriam risco e que era melhor repensar os planos pois estavam muito na cara as más intencoes dos bonitoes.
O aviao aterrisa no aeroporto de cumbica na sexta-feira, data que, para um funcionario publico, é quase feriado, e feriado, para um funcionario publico, é carnaval, quase sempre. Nas ultimas das desculpas, o caso era esse: Carvalho estava em São Paulo para uma feira de antiguidades da Tia Amalia, prestigiar o empreendimento da familia. Argemiro foi sozinho para a dita reuniao - disse à mulher -, ela ate que queria ir junto mas, ao inves de ficar sozinha, ja tinha uma boa companhia aqui no Rio. Ele nunca imaginava que isso fosse possivel. Afinal a mulher do Carvalho ja tinha dois filhos e estava gravida, o que teria para conversar com a do Argemiro? - Coitado! Passeando pelo shopping Morumbi na tarde de sabado, o telefone de Carvalho toca, era sua mulher. Papo vai e papo vem, perguntado aonde estava, acabou comentando, muito por alto, que havia encontrado um amigo, que nao via ha muito tempo, no shopping: Argemiro.
- Mas que coincidencia, nao é, amor?
- Pois é
- E o que ele esta fazendo ai?
- Ah... ele veio... para um congresso de energia nuclear
- E desde quando o shopping morumbi se interessa por energia nuclear?
- É confidencial, amor. Argemiro esta trabalhando diretamente para o governo agora
- Ah eh?
Os dias e as horas dos dois em Sao Paulo corriam na mao da mulher do Carvalho no Rio, contudo, as informaçoes nao batiam com os fatos. No domingo, fazendo compras no supermercado, as duas se esbarram numa de que o universo conspira ao favor de quem fala a verdade. A mulher do Carvalho comentou, muito por alto, para a noiva de Gege, que o marido estava fora, em Sao Paulo.
- soube que Argemiro está em Sao Paulo. Trabalhando para o governo ele?
- nao querida, Gege, pelo que eu sei, foi para uma reuniao da empresa.
- nao me diga?
- pois é
Nunca haviam se encontrado para um almoco na reparticao, foram logo se esbarrar em pleno sabado a tarde no shopping morumbi. seria isso a sorte? A engenuidade o levou a acreditar que elas tinham engolido que, por sorte, ele havia trombado com o amigo do escritorio no maior shopping da maior cidade do pais. Uma mentira de proporcoes nacionais.
Segunda feira, passado o trio-eletrico, Gege voltava para casa como quem acabara de ganhar um concurso de rei momo. abriu a porta da sala com a barriga e deu de cara com a noiva, a mulher do Carvalho e, ali no canto, timido, torcendo para nao ser visto, o Carvalho, do marketing. Argemiro nao acreditou que, apesar de nao ter se oferecido para ninguem durante a viagem, foi entregue de bandeja para sua mulher que ainda nem era dele, mas que precisava ser logo.
Tudo fora descoberto, ate a filipeta. A pena para Carvalho, depois do divorcio, foi uma pensao bem pesada pros filhos. Já para Gege, que naquele momento nao sabia se lamentava ou agradecia o fato de nao te-los, foi o fim do noivado. Foi o fim de um grande sonho, de se mudar para a Delfim Moreira no Leblon e gastar o resto em viagens para Sao Paulo.

domingo, 17 de maio de 2009

O Eterno Deus Mu Dança

-Dan-

Ganhei uma bússola, e agora passo horas com ela nas mãos. Por mais que eu a agite, ela invariavelmente indica exatamente onde o norte está, e isso é um pouco esquisito. Se você é daquelas pessoas que se incomodam com o tempo, e xingam o relógio, por sua frieza e rigidez mecânica, não queira ter nas mãos uma bússola. Os ponteiros do relógio podem ser movidos, os dados podem ser viciados, mas a bússola é inflexível. A flexibilidade, vá lá, não é para mim, necessariamente, uma virtude, mas aprendi que ela é um fato inexorável. Na minha cabeça provinciana e conservadora, as mudanças são sempre um perigo, uma ameaça. Fosse eu Deus, o mundo não teria passado por tantas atribulações. Todos viveriam em choupanas, procriando, comendo mangas e frutas-do-conde, em um estado de nudismo perpétuo. Seriam todos selvagens, bons selvagens e preguiçosos como o Macunaíma. Haveria, é certo, o Tetris, que representaria o estágio mais evoluído do meu mundo. Não sendo eu Deus, porém, o que resta é me adaptar ao que este Deus aí estabelece. E é uma confusão dos diabos, uma zona, em que tudo muda o tempo todo e as inovações vão turvando nossas idéias e concepções antigas e tacanhas. Se a bússola conhece os desígnios de Deus e está sempre tão certa do Norte, forgive-me, Lord, mas eu não sou uma bússola. E as minhas certezas sempre se mostram débeis. Posso ser movido, como os ponteiros do relógio, e eu que já me achara um conservador empedernido, hoje vejo que só a bússola conserva alguma coisa. Ela é bem mais conservadora do que o Partido Republicano e os judeus ortodoxos juntos. É preciso mudar. É preciso mudar urgentemente sempre. Sob pena de perdermos o Norte. Assim esse Deus quis: tudo uma zona, uma confusão. O Norte está aqui, depois ali, depois acolá. Se você não é uma bússola, tente mudar de vez em quando. Mude de time, de cidade, de profissão, e, principalmente, de idéia. Vai mundar o mundo. E deixe o mundo te mundar.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Now listen, your queer...











-Dan-

Imagino seu sentimento de superioridade quando afirma taxativo: “Direita e esquerda não existem mais.”
Você aguarda alguns segundos, esperando que os interlocutores se espantem e perguntem fascinados: “como assim cara??”
Com sua altivez meio blasé, põe-se a discorrer sobre creative commons (uma revolução nos direitos autorais!), terceira via européia ( última moda em Paris), economia ambiental, ONG`S ( arghhhh), bonzais e quiches de alho-poró. Nada tão pós-direita-e-esquerda como o quiche de alho-poró. Assim, com hífen, queira a reforma ou não.
Os interlocutores, parvos, se entreolham e te agradecem por “abrir um novo horizonte, cara!”. É uma pena que nem você agüente (O Bechara é o U e as tremas são cocôs de meu passarinho caindo sobre sua cabeça) esse lero-lero pós-tudo e, no fundo, no fundo, não confie nem um pouco no Ciro Gomes. Mas eu entendo seu prazer transcendental em chamar as ideologias de “anacrônicas”. Você poderia passar o dia xingando a parede de “anacrônica”, não é? Soa fino por demais.
Agora, assiste ao vídeo que eu postarei em seguida. É uma peleja entre William Buckley Jr, o gênio republicano, e Gore Vidal, o lendário escritor democrata, libertário e gay. No seu mundinho róseo não tem lugar para isso. Pode ficar com suas quiches de alho-poró . Eu fico com William Buckley.


http://www.youtube.com/watch?v=li73RRLEyW8


Vidal: "the only pro or crypto-Nazi here is yourself."
Buckley: "Now listen, you queer, you stop calling me a crypto-Nazi or I'll sock you in the goddamn face and you'll stay plastered."

segunda-feira, 30 de março de 2009

Assim falou Bial

-Dan-


Pedro Bial cita Winston Churchill para os confinados da casa do Big Brother: “ A verdade numa guerra é tão importante que deve ser escoltada por um batalhão de mentiras”. Churchill sempre me faz lembrar do jornalista Milton Temer, que, demonstrando a forma mais genuína de bucefalidade tascou, em um programa de TV “Churchill não passava de um imperialista”. Milton Temer me faz lembrar das pombas da paz que condenam todas as guerras mundo afora, e me faz lembrar do provérbio israelense “ as pombas fazem a guerra, os falcões, a paz”. Pombas me remetem a Chamberlain e Daladier, que ao assinarem o Tratado de Munique com Hitler escolheram, segundo Churchill, “a desonra à guerra”. Pedro Bial, assim como Churchill, escolheu ir à guerra e levar um pouco de história aos BBBófilos, um tipo de gente que, na média, pensa ser Churchill uma marca de Uísque barato, mas será lembrado como um ser estranho e efeminado que citava Drummond e Rilke em um programa de TV voltado para o Homer Simpson. A próxima investida do apresentador poderia se dar nos expressos populares, como um Meia – Hora. Em um arroubo poético, sairia a manchete: “ Arautos da Vila Vintém admoestam honestos cidadãos”. Já vi algumas vezes Bial vestindo a camiseta do profeta Gentileza, um traje muito apropriado por sinal. Posso ver Bial, enlouquecido pela fama, com enorme barba amarelada, segurando um cajado na Praça XV, esguio, olhos fundos, gritando: “ Mário Quintana disse que o fim está próximo!!!” “ Os anjos tocarão as trombetas e Jesus voltará no dia do paredão final!!”

sexta-feira, 20 de março de 2009

Um tour pela lógica

-Dan-


Nada melhor do que a objetividade, a argumentação clara e direta e a honestidade intelectual, qualidades do papa Bento 16, estupidamente atacado no início de seu papado por ter ingressado por exigência do regime nazista, aos 14 anos, na juventude hitlerista. As qualidades citadas ali no começo passam longe da canalha que tentou jogar o nome do papa na máquina de sujar reputações, canalha esta que tem pedigree e denominação legal: são as influentes correntes “liberais” da igreja, leia-se a Teologia da Libertação, que em sua fúria populista, não mede esforços para anular seus adversários. Em sua recente visita a África, o papa reafirmou de maneira clara o posicionamento da Igreja Católica em relação à AIDS: é contra o uso de preservativos e a favor do sexo monogâmico. A turba ensandecida, ávida por um linxamento moral, não demorou a mostrar as garras na imprensa mundial, acusando o papa de “estimular o sexo de risco” Pelo menos em uma coisa este argumento é claro: em sua desonestidade. Se a igreja é contra a camisinha, por outro lado, recomenda o sexo monogâmico e a castidade até o casamento. Seguida esta receita, não haveria AIDS no mundo. Mas os detratores da igreja ficam apenas com uma metade da receita, com aquela que lhes interessa, a da condenação da camisinha. Fica parecendo então, que a igreja estimula o sexo de risco. É um truque barato, rasteiro, que um punhadinho de lógica desmonta em meio segundo.Outro exemplo de argumento sorrateiro, este até um pouquinho mais sofisticado é do ministro Temporão, que volta e meia afirma que aborto é um problema de saúde pública. Parece muito correto o argumento, à primeira vista, mas não passa de uma enganação, de um embuste “progressista”. Problema de saúde pública é operação de catarata, que o SUS devia garantir para a população. Aborto é uma questão legal e moral. Nas entrelinhas da fala do ministro jaz a idéia de que “ninguém mais se importa de que o aborto é proibido”. Ou de que “essa lei não pegou, vamos ignorá-la”. O fato, no entanto, é que o aborto é uma questão legal ( é proibido na maioria dos casos) e moral ( a sociedade entende que o aborto é um crime). A lei pode ser alterada, é claro, de forma que amanhã ou depois, as clínicas clandestinas sejam legalizadas e a mocinha possa fazer um aborto no horário de almoço, mas algo me diz que isto está um pouco longe de acontecer, porque, vamos, vem comigo filho, segue meu raciocínio, não me lembro de ouvir algum parlamentar sugerir alteração na lei (talvez o Gabeira, enfim...) e se nossos estimados políticos não tocam no assunto é porque não rende votos e se não rende votos é porque me parece que a sociedade não aceita o aborto. Portanto, só posso concluir que o Sr Ministro Temporão, ou é um rematado ignorante, ou é, ele mesmo, uma questão de saúde pública.

Celebridade praiana

Nao queria ter contado mas fomos parar naquela boate pela presenca ilustre de uma celebridade entre os veranistas. Do qual tinhamos ido a casa na praia mais badalada da cidade e, por forca do destino, feito uma verdadeira amizade. Nessas horas em que uma comunidade de donas de casa param durante uma hora e meia em nome da teledramaturgia brasileira, nós, cariocas, que estamos muito proximos das celebridades no dia-a-dia, em festas e eventos é quando ficamos a um passo do horario nobre.Digo um passo literalmente; pra falar a verdade, um braco de um seguranca da area vip, se nao é a gloria - o que aconteceu neste caso - quando conseguimos ficar la dentro, entre os vips. Ai sim, voce esta no horario nobre. Olhei para os lados para ver se tinha alguma coisa errada, ao que me deparo com a primeira atriz conhecida. Ela dancava com a maior energia, balancava o cabelo pra cima e pra baixo igual aos caras do iron maiden, o dj mandando ver no BARRY WHITE e, o que é estranho, foi um alivio quando percebi que ninguem ia me colocar pra fora por estar pensando merda sobre os outros. Ao me ver ali entre os mais consagrados artistas da minha geracao bebendo e falando besteira, nao pude conter minha simpatia e curiosidade, fui tentar claro um approach entre as estrelas. Uma das mais famoas era Gertrudes Malafaya, da novela das 6. Ela me fazia delirar nos aureos tempos de "Com a Corda no Pescoco" ou entao - nunca vou esquecer - quando ela apareceu nua na sessao de fofocas de uma revista sobre politica, em meio a escandalos dos parlamentares. Dizia isso para um amigo no bar quando avistei Gertrudes, parecia que tinha acabado de sair do mar e vinha em minha direcao numa manevolencia de garota de ipanema. Se aproximou do garcom e pediu um sex on the beach. Eu aproveitei para oferecer um mas ela preferiu conversar antes.Conversamos durante horas, de maneira intensa e divertida, um tipo de papo que te leva pra algum lugar no final, de preferencia na praia, mas ai eu falei que estava escrevendo um livro e ela nao entendeu, disse que nao estava interessada. Ainda me disse mais, que, por coincidencia, estava a procura de sua personagem numa peca sobre a relacao espacial entre os livros e as mesas de centro no ambiente urbano. Nao que eu queria decepciona-la, mas o que eu gostaria mesmo era de ter na minha mesa de centro, a Gertrudes Malafaya. É impressionante como o pessoal do showbusiness adora falar sobre trabalho. Dizem que tem profunda relacao com a sua proxima obra e arrematam um bloquinho para anotar cada palavra. Sempre me opus a falar sobre trabalho em ocasioes sociais - ainda mais num lugar descontraido onde nos estavamos, tocando musica boa(barry white ainda), nao é pra ficar ocupando a cabeca com aporrinhacoes.Tratei de ir em direcao a pista, aquele papo de trancedencialismo e arquetipos sociais ja estava me fatigando, foi ai que eu dou de cara com quem: Andrey Savagi, galã da pornochanchada da decada de 70. Havia alguma coisa de errado com ele, percebia em Andrey um ar meio abatido, andava pelos cantos do balcao tomando seu wisque, sem alguma estirpe que possuia no anos rebeldes, de um exmilitante pro democracia, e a inteligencia e perspicacia com que se sucedia nos debates. Quando cheguei mais perto vi realmente que estava bebado. Chamava a atencao dos colegas e causou vergonha para a classe que sempre prezou pela falta dela. Eu como humilde fan fui la tentar ajudar mas ele nao quis, a revolta por nao ter mais o brilho de outrora misturava-se com o orgulho de ser uma lenda viva do cinema brasileiro. De supetao, Andrey Savagi teve uma crise e partiu pra cima de mim com dois copos de wisque nas maos. Eu corri deseperadamente, nao sabia se ficava preocupado por ter um bebado querendo me pegar ou se lisongeado por ser uma estrela como Andrey Savagi.Eu consegui me livrar mas Gertrudes acabou levando a sobra - os dois copos de wisque, mais precisamente. Eu imaginei quando resolveram dar drogas de graca para os convidados, mas nao sabia que ia sobrar pra mim, quer dizer, nao exatamente. Os dois copos arremessados por Andrey Savagi deixaram o rosto de Gertrudes Malafaya completamente dilacerado, ainda bem que os paramedicos chegaram em um instante, pareciam que ja estavam ali dentro esperando Andrey jogar os copos. Eu fiquei desolado com a cena, uma parte de mim que havia sido construida ali naquela boate foi embora com Gertrudes e os paramedicos. Nunca estive tao perto de uma celebridade como ela, e agora nunca mais vou ve-la da mesma forma. Sua aparencia nao sera a mesma, e nem a cutis de pessego que nutria desde jovem. Para sempre ficara marcado na minha memoria o econtro com a musa dos vespertinos semanais.

João Vicente

domingo, 15 de março de 2009

Fim de semana em Búzios

-joão vicente-

Viajar com os amigos é sempre bom. Ainda mais quando um deles tem uma casa em Buzios, no litoral norte do Rio de Janeiro - o destino de todo carioca classe media de ferias no Rio. Se pudessem descobrir outro paraiso tropical aqui pelas cercanias, ou baratear as viagens para o sul, mas ter apenas um lugar onde vá toda a populacao classe media de ferias no Rio, que vem aumentando a cada ano, nao é de se alegrar nenhum regime chines de controle de natalidade. Buzios é um desses paraisos tropicais que sao cobicados e invadidos, não só pelos brasileiros, mas pelos estrangeiros. Lá se encontra mais nacionalidades do que na periferia de Los Angeles. Nao me surpreenderia, portanto, daqui a alguns anos, um espanhol naturalizado se candidatar a prefeitura e implantar, como primeiro decreto, feriado municipal de San Pablo de las Missiones. Mas enquanto nada disso acontece, volta e meia, reunimos os amigos para um fim de semana na cidade. Para alguns, passar um fim de semana em Buzios é um sonho. É como ir para o Big Brother: ninguem quer ir embora. E é nestas horas que os valores sao subvertidos. Ao contrario do Big Brother, em Buzios os parentes e amigos distantes aparecem antes de chegar na casa - para que eles possam ir juntos. Alias, a casa tem todos os requisitos que preenchesse, comecando pela localizacao: de frente para a praia rasa, dita uma das primeiras a serem habitadas pelos andarilhos da decada de 70, que iam se fixando na regiao. Ali, onde os primeiros sinais vindos da arrebentacao indicavam mais uma tarde esplendorosa, onde o por-do-sol confundia-se com a aurora, a vida passava ao largo, mais precisamente pela ponte Rio-Niteroi. Podiamos ter aquela famosa sensacao de serem mais longos os dias, a praia ia ate onde os olhos alcancavam, quando o crepúsculo sombreava a pele e ia embora. Mas de um jeito ou de outro, a vida que passava ao largo passa por aqui tambem, na verdade parecia ter ido à Bahia e voltou, e a gente tem que ir lá, atende-la na porta:- Olá, seu Pedro (era o nome do dono da casa), meu nome é Josiel. Sou do carro pipa aqui da regiao, e vim lhe avisar que aconteceu um probleminha aqui na doca do poco artesiano, nao ta dando pra puxar a agua nao viu? olhe, é mais facil o senhor nao tomar banho hoje e nem ligar nenhuma torneira porque senao pode forcar a saida de agua e entrar ar, ai so daqui a duas semanas pra consertar o prejuizo, nao sabe?Muito intrigado, Pedro se perguntava, primeiramente, aonde que os moradores de Buzios arrumavam agua numa situacao dessas. E, em seguida, de onde é que vinha todo aquele jeito diminutivo pra tragédias, que ja acabou com o seu final de semana.- Olha, a gente pega agua na nascente do rio aqui na regiao, mas nao tem nada nao, eh soh umas duas horinhas de trilha. Quanto a sua segunda pergunta, acho que eu nao sei nao senhor. deve vir da minha familia la de juazeiro, nao sabe?Em se tratando de tranquilidade, a vida, em cidades litoraneas como Buzios, nao so passa tranquila como passa enferrugada pela maresia. Todos parecem caminhar pelas ruas como se fosse domingo. Deve ser por isso a proliferacao de padarias e mercearias nessas cidades, ja que domingo é dia de tomar cafe com leite e um pao com mortadela, com ou sem manteiga, no final da tarde. O dia só muda quando o sanduiche vem fatiado pelo cerol da linha da pipa que um muleke despudorado soltava na frente da padaria. Isso me fez lembrar da epoca em que meu tio tinha uma casa em Ponta Negra. Era sempre uma aventura sair na rua em Ponta N egra, se voce nao estivesse de carro, era comum ser dilacerado pelo emaranhado de carreteis e linhas cobertas de cerol das pipas. Para entrar na padaria, por exemplo, tive que regredir aos meus 8 anos e enfrentar uma enorme cama de gato na calcada. Voltando a casa, uma questao nos importunava como a quem sofre por antecipacao. A agua era escassa - havia alguns goles na bica da torneira da cozinha - e se aproximava a hora da grande noite: uma boate local nos havia destinado alguns convites para uma festa fechada onde so iam artistas famosos e consagrados, da televisao e do cinema. Ate hoje eu ainda nao entendi como o convite veio parar nas minhas maos, mas, certamente, a consagracao nao viria por uma boa causa. Enquanto pegava o galao do bebedouro para me banhar, um dos presentes, com o peito em riste, sugeriu que invadissemos a casa do vizinho que viajou para cabo frio. la havia um chuveiro perto da piscina, era so pular o muro da casa. Ninguem queria perder a festa, claro, mas quanto a proposta de invadir o vizinho, o pessoal se dividiu. A outra metade teve que pegar o carro e ir ate um desses condominios que viram clubes la em ferradurinha, ou seja, do outro lado da cidade. Era compreensivel que quando eles chegassem lá fizessem uma sauna, nao e? por que nao? Se fossemos pessoas mais centradas, teriamos é ficado em casa, fazendo macarrao e tocando violao. Mas a chance de ver de perto atrizes de peso - e sem peso - do cinema nacional nao nos fazia desistir da empreitada.(continua no proximo post)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A Culpa é do Bowie

-Dan-

Não, não foram os judeus gananciosos. Nem os yuppies de Wall Street. Nem o Alan Greenspan. O culpado pela crise mundial é David Bowie. Vejam lá:



http://cifraclub.terra.com.br/noticias/8749-colunista-ingles-culpa-david-bowie-pela-crise-economica-mundial.html

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Gotas de sabedoria

-Dan

Resolvi brincar de notinhas. Tremei, Ancelmo Góis !

* Há uma relação inversa na beleza dos ídolos de homens e mulheres, com o passar do tempo. Eles, quando jovens, idolatram o Ronaldinho Gaúcho e o Ozzy Osbourne. Depois dos 20, 25, passam a admitir, meio avexados que “até que o Tom Cruise faz filmes bacanas”. Já elas, na flor da idade, adoram Ricky Martins, Brad Pittis e afins, mas quando envelhecem, acabam colando um pôster do Djavan na parede do quarto, sem a menor vergonha.


* A ONU é tão, mas tão inútil, que nem bombardeada consegue ser direito. A imprensa do mundo todo noticiou que uma escola da ONG mais cara do mundo havia sido bombardeada pelo exército israelense, cujo maior hobby é bombardear prédios da ONU. A informação, porém, quando ia virando uma verdade, foi desmentida, às escuras, e com letrinhas miúdas pelo porta-voz da entidade, Cristopher Gunnes, durante uma sessão de WAR na sede de NY.



* Arnaldo Jabor contabilizou, terça passada seu milésimo uso da expressão “América Profunda”. A luta agora é para chegar ao milésimo “bolcheviques”.


* O Campeonato é fluminense, não carioca ! Troca aí antes que alguém mais perceba, ô cara...



* Em terra de 40 graus à sombra, quem tem febre é rei.



* Obama, o verdadeiro ovo de páscoa: preto por fora e vazio por dentro

sábado, 24 de janeiro de 2009

O amor incondicional

-Dan-

Uma vez, vi em um filme, ou li em um livro, ou ouvi na sala de espera do dentista, a ante-sala do inferno, uma conversa interessante sobre cafunés em pessoas que estão dormindo. A mulher se queixava da falta dos cafunés e o marido dizia que só fazia cafunés enquanto ela estava acordada, pois não havia sentido, segundo ele, em agradar um ser inanimado. A mulher se resignou com o argumento do marido e fez um muxoxo. Eu, que não sou dado a muxoxos ou resignações, arquivei a discussão em algum escaninho escuro desta mente que vos escreve. Como pode não haver sentido em agradar um ser inanimado? Não peço que esse marido conheça os hábitos das tribos da Nova Guiné, que adoram totens feitos de pedra ou madeira, mas se for ali ao Posto 9, o distinto verá uma tribo que adora e aplaude o Rei-Pôr-do-sol, enquanto uma outra, toda vestida de branco joga flores no mar e canta em homenagem a uma senhora que nem sequer existir de se pegar existe. Toda hora, em todo lugar, tem alguém amando, admirando ou agradando coisas que “não existem”, que são inanimadas. E eu te pergunto, querido marido, quem é mais inanimada? Iemanjá ou sua nobre mulher? Vou mais além, caro marido, e digo-lhe, com ares de professor emérito da Sorbonne, que a civilização, essa nossa, que nos proporciona o ar-condicionado, os antibióticos, a comida japonesa e os sitcoms americanos, essa nossa civilização justa humana e igualitária só é possível com um mínimo de veneração a seres inanimados ou que nem mesmo existem. Sem o respeito a Deus (para os religiosos) ou à Lei (para os legalistas) ou à moral (para os moralistas), as sociedades desandam para o que Durkheim, se me permite a citação, chama de anomia. “Por quê ser honesto, prestar esse “agrado” à honestidade, se muitas vezes ganha-se mais sendo corrupto?”- já perguntava Platão, no que respondo, séculos depois - não tem por quê. Ser fiel a um conceito, a um valor, a um ser inanimado é um ato irracional, que não estipula retornos, vantagens. É o altruísmo mais puro e elevado. E é por isso, marido, que você devia passar a fazer cafuné em seres inanimados, como sua esposa. E é por isso que eu entendo todo tipo de pessoa que cultua e venera ídolos. E que se recusa a apoiar o aborto, pois ama verdadeiramente um pedacinho de carne ínfimo, quase insignificante e inanimado.