domingo, 17 de maio de 2009

O Eterno Deus Mu Dança

-Dan-

Ganhei uma bússola, e agora passo horas com ela nas mãos. Por mais que eu a agite, ela invariavelmente indica exatamente onde o norte está, e isso é um pouco esquisito. Se você é daquelas pessoas que se incomodam com o tempo, e xingam o relógio, por sua frieza e rigidez mecânica, não queira ter nas mãos uma bússola. Os ponteiros do relógio podem ser movidos, os dados podem ser viciados, mas a bússola é inflexível. A flexibilidade, vá lá, não é para mim, necessariamente, uma virtude, mas aprendi que ela é um fato inexorável. Na minha cabeça provinciana e conservadora, as mudanças são sempre um perigo, uma ameaça. Fosse eu Deus, o mundo não teria passado por tantas atribulações. Todos viveriam em choupanas, procriando, comendo mangas e frutas-do-conde, em um estado de nudismo perpétuo. Seriam todos selvagens, bons selvagens e preguiçosos como o Macunaíma. Haveria, é certo, o Tetris, que representaria o estágio mais evoluído do meu mundo. Não sendo eu Deus, porém, o que resta é me adaptar ao que este Deus aí estabelece. E é uma confusão dos diabos, uma zona, em que tudo muda o tempo todo e as inovações vão turvando nossas idéias e concepções antigas e tacanhas. Se a bússola conhece os desígnios de Deus e está sempre tão certa do Norte, forgive-me, Lord, mas eu não sou uma bússola. E as minhas certezas sempre se mostram débeis. Posso ser movido, como os ponteiros do relógio, e eu que já me achara um conservador empedernido, hoje vejo que só a bússola conserva alguma coisa. Ela é bem mais conservadora do que o Partido Republicano e os judeus ortodoxos juntos. É preciso mudar. É preciso mudar urgentemente sempre. Sob pena de perdermos o Norte. Assim esse Deus quis: tudo uma zona, uma confusão. O Norte está aqui, depois ali, depois acolá. Se você não é uma bússola, tente mudar de vez em quando. Mude de time, de cidade, de profissão, e, principalmente, de idéia. Vai mundar o mundo. E deixe o mundo te mundar.