quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O verdadeiro sentido do natal

-Dan-

O natal virou uma festa do consumo! As famílias se esqueceram do significado do natal: a celebração do nascimento do menino Jesus! Eu, porém, que sou um iluminado, quando tirei os 25, 90 da minha carteira para comprar o perfume da minha avó, lembrei do aniversário de Jesus, citando-o nominalmente inclusive, em pensamento, que foi: “Jesus, como os perfumes estão caros!”Não sei muito bem porque se pensa que Jesus e consumo não combinam. Ora, pois, ele, que como dizem as escrituras, gostava de um bom pão e de um bom vinho, multiplicou os peixes e até ressucitou o Lázaro, satisfazendo o maior sonho de consumo que um ser humano pode ter. E o que dizer da Última Ceia, de Leonardo Da Vinci? Nunca ouvi alguém recriminar Jesus e os apóstolos pela mesa nababesca retratada no quadro. Não sei não , mas aqueles copos, aquilo ali dentro sempre me pareceu de ótima qualidade. Um Borgonha, talvez. Um Chardonnay?Jesus podia ser tudo, menos um chato. Sabia comer, beber e até se vestir. E já nasceu recebendo pequenos luxos: mirra, incenso e ouro. Mas sempre tem um ou outro chatola, cheio de fraternidade e cachaça, que vai dizer que o consumismo é uma praga, que não faz parte da essência do natal e patati patatá. Normalmente é o sujeito que doa seu décimo-terceiro salário para um miserável consumir por ele, cheio de culpa cristã, a mesma culpa que o próprio Cristo não tinha. Ora, para cada Lázaro que ele ressucitou, quantos ele não ressucitou? E isso por um acaso o afligiu um tiquinho? Hein? Necas. O verdadeiro sentido do natal é esse aí mesmo, beber, comer e discutir sobre reforma trabalhista com seu cunhado, enquanto o chatola que odeia o consumismo desce para comprar um sal de frutas.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Ela

Esse tal de pub não pára de me entorpecer de emoções. Melhorou ainda mais após eu conhecer a Juliana; ah senhorita refinada, de fino trato, praticamente uma lady em meio a glutões como eu.
Ela ficou me olhando, meio de rabo de olho a noite inteira.. Cheguei e falei: - Gosta de nouvelle vague? - ela disse que preferia o surrealismo de Buñuel...O cão andaluz em meu ser correu então, chegou aos olhos perversos dela e em um breve momento a conquistou; olhei, beijei e no fim, um tapa! ela me deu tapa. Aceitei. Nunca havia gostado tanto de uma Juliana, ainda mais uma q bate! Julia, Juliane, Joana, todas, mas nunca Juliana...

Caso tenha ficado restrito a esse mausoleu de emoções causado por uma morena jambo me desculpe...
Ela merecia mais, estou agora ilícito declamando verso sobre ela sem o menor sentido... ela merece mais, ela é mais ela é... ELA

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Invadindo o sertão

Olho para minhas sandálias e vejo um par de alpercatas. Minha árvore de natal é um juazeiro definhado, de galhos torrados, retorcidos. Há em cada porteiro da Barata Ribeiro um jagunço em potencial, prestes a desembainhar seu facão e escalpelar o síndico como um preá. Isso é o que acontece com quem se mete com o tal regionalismo modernista. Imagine-me desalentado, com o rosto desfocado, dizendo: "Crianças, nunca comecem. É um caminho sem volta". As imagens da seca, das paisagens mortas, da terra vermelha e rachada fixam-se de uma forma na mente do indivíduo que mais parecem um assentamento do MST. Os esqueletos das cabras e jagunços erguem-se brandindo armas e reivindicando um pedacinho da sua cabeça, exatamente aquele que o funk e a maconha tornaram improdutivo. A redenção, porém, para um "sertanista" como eu, vem com Vidas Secas. Aqueles cangaceiros brutos que invadiram minha cachola depois de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Grande Sertão: Veredas" têm suas rústicas cacholas invadidas por Graciliano Ramos. É um contra-ataque, um regôzijo, a doce vingança. Quebrar o sigilo psicológico do vaqueiro Fabiano ou da cachorra Baleia não expulsa os açudes secos e os seixos em brasa de nossas cucas, mas consola, mostrando que podia ser pior, bem pior. Essas imagens terríveis que se espremem num cantinho abandonado da minha imaginação são, para gente como o vaqueiro Fabiano, as únicas imagens possíveis.

-Dan-

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Cerimônia de encerramento


Primeiro, eu gostaria de cumprimentá-los, meus companheiros de crise. Sim, porque estamos na pior crise da história do capitalismo, dizem aquelas pessoas existencialistas, que vivem em crise consigo mesmo. Depois, eu quero que vocês, pessoas em crise, reflitam sobre o momento pelo qual estão passando, se é porque você não está com aquela tremenda enchaqueca ou será a hora de mudar mesmo de rumo, sua vida não tem mais sentido, filie-se ao Greenpeace e mude-se para Nova Zelândia.
Pessoas em crise, o sistema morreu mas nós, meros mortais, estamos vivos, não precisamos do sistema, já basta nossas crises internas, e olha que nao estou falando de politica. Seria interno no sentido de alma, mas não que tenhamos que vendê-la pelo poder, mas o que precisamos é de terapia, terapia da alma(parece que meditação tá dando certo no oriente), é isso que falta pra gente. Sim, porque dizem por aí que as maiores crises da História foram inventadas pelo homem: a queda de Constantinopla, o crash da bolsa, a crise do petróleo. Dizem que muita gente faturou com a suposta crise de 29. Será bendito? Para mais ou para menos, foi uma desculpa extraordinária para todo o processo histórico subsequente. Como explicaríamos milhares de suicídios, as queimadas em fazendas de café, Getúlio Vargas subindo ao poder.
Nunca, na história do homem, a não ser pelo entrave do estreito de Bering, onde centenas de ancestrais ilhados foram morrendo aos poucos, uma crise afetou tanto o caminhar da humanidade como a que estamos enfrentando hoje. Agora, que venha a próxima era glacial para esfriar os nervos dos esquizofrênicos homens pós-modernos.

Joao Vicente

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

A (para) quem interessar

O maior desafio de um escritor e de um jornalista, depois claro de pensar numa boa história, é escolher as palavras exatas (precisas) para compô-la. Acho que é isso que faz um escritor ou mesmo um jornalista melhor do que o outro, entre outros aspectos, claro. Ao longo deste texto, tentarei mostrar (exemplificar) o dilema que ronda minha cabeça na escolha de palavras e pela qual todos que escrevem devem passar. As que estão entre parênteses são as que fiquei em dúvida entre a própria e a que a antecede. Por exemplo, a primeira frase deste texto poderia ser: O grande desafio de quem escreve, após logicamente elaborar o texto, é achar as palavras certas para fazê-lo.
O texto é a junção (união) de palavras. Para fazê-lo (escrevê-lo) bem, é necessário ter um repertório grande delas e também saber o significado exato das mesmas. Há dois exemplos ou contra-exemplos disso. Eu achava que uma cidade cosmopolita era uma cidade que exportava seus costumes. Quando não é. Já o Dan achava que quando uma coisa aumenta sensivelmente queria dizer um aumento sensível, pequeno. O que apesar de fazer lógica, também não é.
Por isso sou contra palavras genéricas, como por exemplo, coisa; tipo; isso.
Ex: O ministro anunciou, entre outras coisas, a reforma do hospital. Por que não, O ministro anunciou, entre outras medidas, a reforma do hospital? Ou se não forem medidas: O ministro anunciou a reforma do hospital, além de...
O grande (bom) escritor é aquele que sabe exatamente dar emprego à determinada palavra em determinada situação. E é o que eu espero e tento me aproximar de fazer algum dia.
Um outro exemplo que pode parecer bobo (raso), mas do qual me recordo até hoje: no primeiro período da faculdade, a professora de Gramática estava justamente explicando a diferença entre as palavras, e que não existem palavras que querem dizer exatamente a mesma coisa que outras. Senão, não haveria o porquê de existir mais de uma. O exemplo que ela deu foi o seguinte: Se a secretária deixa na mesa do chefe um bilhete escrito “importante” e outro com o título “imprescindível”, qual dos dois você lerá primeiro?
Acho eu que usar linguagem rebuscada não compõe (faz) necessariamente um bom texto. Sou daqueles que preferem a linguagem mais simples, porque, afinal, para mim ao menos, o principal objetivo de um texto é passar a mensagem; ou seja, fazer a comunicação emissor-receptor. Por isso, sou fã de Machado e Nélson Rodrigues e não consegui ler “Grande Sertão Veredas”, de Guimarães Rosa.
Para compor (redigir) um bom texto também é saber bem usar vírgulas, pontos, travessões e aspas, das quais sou fã. Mas isso fica (deixa) pra próxima.

Júlio