sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Então...

Cansei. Parei de ficar regorjizando mulheres pelo buraco da porta da farani. Quero prazer, quero você que está lendo esse texto agora, doidinha para tirar esse shortinho sem vergonha da farm e botar suas pernas carnudas na minha coxa.... a minha... todos sabem como ela é... grande, grossa, pronta para o declínio do ímperio americano. Só vou conversar mais um pouco pelo fato de não ter o que fazer, um beijo aqui, um beijo acolá.. é foda ter que comparar, mas fala sério, todas querem um pouco, eu quero ser um Nelson Rodrigues, maléfico, maldoso, melindroso..enquanto isso sou o Sandro, o málefico, o maldoso, o melindroso...

Simplesmente Raymundo

Você sabe quem foi Raymundo Correa? Não? Os fabricantes das novas placas das ruas de Copacabana também não. Eles sabem quem foram Figueiredo Magalhães, um notório proprietário de terras (eufemismo de “latifundiário”) e Constante Ramos, outro latifundiário, mas sobre Raymundo Correa, nada consta nas tais placas que trazem, todas, uma breve biografia dos personagens que dão nome às ruas. Todas, menos a de Raymundo Correa. Teria sido ele um ladrão? Pior, um assasino? Pior, um político do Maranhão? Atormentado por estas questões que insistiam em martelar-me a cuca, fui em busca da história de Raymundão. Visitei museus, fui ao arquivo da cidade, bati de porta em porta, interroguei autoridades e agentes do governo em busca de sua identidade, até que, enfim, descobri quem foi Raymundo Correa. Esta última parte do texto, fruto óbvio da minha imaginação, serviu para dar mais emoção à minha busca sem graça na internet, numa tarde de sol, em meio a baldes de frango engordurados e montanhas de roupas sujas. Mas enfim, o fato é que descobri que Raymundo Correa foi poeta, contemporâneo de Machado de Assis e identificado com o parnasianismo. Vejam que triste sina a dos poetas. Depois de muito produzirem em vida, de escreverem poemas bonitos e profundos, alguns deles até ganham certa fama post-mortem. Raymundão nem isso conseguiu. Para a história, Raymundo foi Raymundo e nada mais. Mais um Raymundo, assim como os “muitos Severinos” de João Cabral. Mas estará nosso amigo a esta altura de sua vida, ou melhor, de sua morte, se contorcendo de raiva no túmulo, babando de ódio por não ter sido reconhecido como poeta? Se tivesse convivido com Vinícius de Morais, certamente não. O poetinha, segundo dizem, nunca quis ser nome de rua, ou que fizessem estátuas em sua homenagem, etc e tal. Tô contigo, Vinicius. Se daqui a 100 anos, por acaso virem escrito numa placa “Daniel Soares – poeta”, peço a gentileza de cometerem um pequeno ato de vandalismo . Arranquem a placa e a joguem na fogueira mais próxima, afinal, lugar de vaidade é na fogueira.

-Dan-

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Pelas ruas que andei


Nada como ver o tempo passar, nao é? Por vezes vou a janela vê-lo. O tempo da minha janela começa lá no Leblon e vai até Copacabana, quando sai do alcance da vista para entrar no terreno da imaginação. Ao passo, acompanho sua andança e as vidas que nele habitam. E aqui em Ipanema, falta tempo às tantas e variadas formas que alvoroçadas observo estonteante.
Esqueça cartões corporativos, desmatamento da Amazônia, festa do Oscar. Andar por estas calçadas inspira até o mais cético dos cronistas. A mistura de cores e sons que compõe a paisagem imagética do transeunte vai além dos livros de Clarice Lispector, Guimaraes Rosa e daí por diante. Se acompanhasse um dia desses personagens anônimos, daria para fazer um apanhado geral da sociologia brasileira, um conto de Machado de Assis e um estudo sobre a tendência anamorfizante da macroeconomia nos países em desenvolvimento.
Lá pelos lados da Vinicius de Moraes, vem o vendedor de espanador. O próprio nome ja é uma poesia: vendedor de espanador. Venho andando sorrateiramente atás do ambulante e atesto sua eficiência em vender espanadores. Ele tem uma musiquinha que ajuda na sua publicidade, não sei se repararam mas espanador rima com computador. Pronto, resolvido o problema do meu teclado. E olha que não sou o único deslumbrado. Aqui se encontra de tudo, de carro com controle remoto à bolsa que vira canga que vira pochete que guarda no bolso. Mais adiante encontro com o vassoureiro, como o mesmo se denomina. Há uma certa concorrência entre ele e o vendedor de espanador: Tentam empurrar, cada um com seu utensílio, ao que verdadeiramente não se destina. Nesses tempos capitais, qualquer concorrência é uma ameaça.
O vassoureiro leva as vassouras lá no alto, assim a dona-de-casa que tá lá no Leblon ou a outra em Copacabana conseguem avistá-lo. Faz o percurso ida e volta trocando as ruas Prudente de Moraes e Visconde de Piraja. É um atleta. Enquanto estou ainda na Garcia D`avila, já vendeu metade na ida e vem voltando com a maior disposição. A alegria das ruas é inigualável, principalmente no Brasil. Morei um tempo fora e pude perceber que o segurança da lojinha que comenta a rodada do final de semana com seu colega que está do outro lado da rua, só o encontraria por aqui. Ou então no morador do primeiro andar do prédio logo em cima da lojinha. Ele só não olhou para baixo, porque se olhasse veria o medigo do skate.
O mendigo do skate nasceu sem as pernas e leva a vida andando de skate. Deve ser ruim pois não consegue nem pedir dinheiro no sinal. Volta e meia, aparece com uma cervejinha a tira-colo dada pelo dono do bar ali da Garcia; reclamando da vida e discutindo com o segurança o pênalti roubado do último jogo. Fico pensando que se não fosse o futebol o que seria da cervejinha do mendigo do skate. Na verdade, ele só quer contrariar. Troca meia dúzia de desaforos com o segurança e vai perturbar outro, o cara das vassouras, que vem voltando e não perde tempo: "olha, ô miudo, vou te varrer se você não sair da frente, hein!"
A louca de Ipanema não apareceu nesse dia. Para quem desconhece, trata-se de uma mulher com seus 50 e poucos, que não voltou dos anos 70 e tantos, e vive tentando encontrar a passagem secreta de volta para casa. A década de 60 e 70 nos rendeu bastantes histórias, mas vejo que os tempos atuais tendem a produzir mais figuras por aí. Há que o diga os porteiros, eternos vigilantes da vida alheia. Não fizeram o curso de espionagem na CIA pois vangloriam-se de estar, de novo eternamente, e como eles mesmos afirmam, a meio passo de virarem síndicos.

Joao Vicente

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Divagacoes vindouras do norte

Faz dois meses que estou na Terra do Tio Sam. Ainda, no entanto, nao cheguei a uma conclusao sobre o porque eles eles sao melhores do que nos. E se, sim, porque o sao. Aqui a organizacao impressiona. O transporte nao atrasa, as ruas sao limpas, quase nao ha crime. Mas por outro lado, ou "on the other hand", como eles diriam, as pessoas temem o Estado. Eu temo o Estado. Ao que eu tambem nao consigo dar um juizo de valor. Por toda a cidade ha placas "Do not littering" (nao jogue lixo no chao). Sabe a multa? A modesta quantia de mil dolares. Eu tenho medo de, sei la, alguma coisa cair sem querer da minha mochila, por exemplo. Ou, se pegar um jornal que esta no banco e deixar no mesmo lugar, eles acharem que eu estou "littering". Eu nao sei se cuspir esta incluso, mas pelo sim, pelo nao, eu evito. Aqui voce so pode atravessar na faixa de pedestre e esperar o sinal abrir. Tudo bem, evita atropelamentos e as pessoas realmente respeitam. Mas, you know, as vezes ta chovendo ou nao tem nenhum carro nem a 300m de distancia. Multa? 350 dolares. Todas as boates aqui, sem excecao, terminam as 2h. Eh a lei. Outra: eh proibido beber na rua. Ou seja, a pre-night acaba quando voce deixa a casa. Especialmente aqui em San Diego, fronteira com o Mexico, a policia eh muito temida, eficiente...e numerosa. Eles estao em todo lugar.
Toda a dissertacao acima foi para resumir, ou melhor, compartilhar o pensamento de que em nenhum lugar voce pode encontrar tudo o que quer. Se por um lado o Estado funciona perfeitamente, por outro, voce perde um pouco da sua liberdade. Como disse no inicio, ainda nao cheguei a uma conclusao, mas tendo a achar, vendo ruas limpas, transportes funcionando, seguranca, que temer o Estado nao eh de todo ruim. Por pior que isso pareca.

Julio,
SD, Ca

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Mamãe cheia

Pessoal,
gostaria mesmo de escrever aqui algo sério, uma crítica ao mundo que nos cerca talvez. Mas, no momento, estou sem inspiração e saco. Para literatura, porém, minha cahola está a mil – mesmo que não saia nada dela digno de prêmios. Aí vai um continho que escrevi nos raros momentos de ócio no estágio. Aproveitem.
***
"É uma menina", disse o obstetra. A mãe, pesando 76 quilos, ouviu o primeiro choro do bebê acompanhada do marido, que comemorava com os olhos empapuçados de ternura. Ainda que inchada pela gestação, a mãe era linda. Na juventude era considerada a mulher mais bonita da turma que pegava praia na Figueredo Magalhães. Os desejos de grávida obrigavam-na a comer loucamente. Sorvete com leite condensado era quase uma rotina da madrugada. O maridão zeloso atendia a todos os pedidos da esposa e por diversas vezes correu até a única padaria 24 horas do bairro para comprar dúzias de queijadinhas. Pratos duplos de comida eram devorados em velocidade de cruzeiro pela mamãe.
Após o quebranto, a comilança continuou e os desejos súbitos apareciam madrugadas atrás de madrugadas. A barrigona não murchou e inflava feito balão, não parava. A moça linda na juventude dava lugar a uma imensa máquina engolidora de pipoca de microondas. O marido buscava em outras camas a delicadeza do corpo feminino. Mesmo quando estava com outras, fantasiava sua esposa aos 20 e poucos anos. Cada vez mais ausente e frustrado. Desde o nascimento, a mulher lhe recusara quase todas as propostas de amor. Sob a promessa de que retribuiria com um bolo de chocolate, fizeram sexo pela primeira vez desde que a pequena veio ao mundo. Saudoso com as antigas noites de calor, chorou quando teve a sensação de que estava deitado com o Tim Maia.
Quando a menina fez dois anos, a mulher pesava 110 quilos. Seus braços e pernas estavam imensos, flácidos e buliçosos. O homem sinalizava seu descontentamento, mas a mulher não desgrudava do doce de leite, que era devorado as colheradas. Um dia, um tanto exitante, o marido desapareceu para nunca mais regressar. Ela sentia falta de sua companhia e de seus vôos à padaria. Uma tristeza absoluta a invadiu. Depositou na criança a culpa por ter se transformado naquele monstro glutão. Viu sua juventude perder-se em meio aos doces e às responsabilidades maternas. A mãe foi tomada por um ódio mortal.
Ao completar quatro anos de idade, a criança viu sua mamãe com 145 quilos. A mulher não parava de engordar e caminhava a passos largos para os 160 quilos. Tentou todas as dietas, percorreu todos os caminhos. Mas a vontade de comer sempre superava a batalha contra a balança. Quando se sentia só ou estava com um problema, se debulhava numa orgia de quibes, empadinhas e brigadeiros regada a doses cavalares de coca-cola. Num dia cinza de junho a cidade amanheceu com uma notícia incomum: uma menininha de quatro anos foi encontrada morta boiando na Lagoa Rodrigo de Freitas. Naquele mesmo dia, quando a voz de prisão lhe foi dada, a mulher emagreceu 3 quilos e meio.

Lucas

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Ultimate Fighting



Lá vai um post para meus amigos jornalistas.
Agora que os arranca-rabos voltaram com tudo à grande imprensa, vale a pena ver de novo uma das maiores e mais hilariantes pelejas, entre o falecido Paulo Francis e Caio Túlio Costa, o primeiro ombundsman (ô nome desgraçado) da imprensa brasileira. Em resposta às constantes críticas de Caio, Francis mandou ver um petardo, nas páginas da Folha, do qual reproduzo os melhores momentos (e, em itálico, os melhores momentos dos melhores momentos!)


"Afinal, quem é Caio Túlio? Desponta para o anonimato. Só é conhecido de um círculo restrito de redações de São Paulo; no Rio, não convém arriscar uma pergunta sobre sua identidade. É ignorada. Eu sou bom, Caio Túlio é ruim. eu sou famoso. ele é obscuro. Eu estou no ápice da minha carreira. Ele é apenas um bedel de jornal. Acabei dando-lhe uma lambada em resposta ao primeiro artigo, não continha um único ataque pessoal. Era violento, mas intelectual. Ele não respondeu. botou o galho dentro, como se diz. fico imaginando aquele cara ferrujosa de lagartixa pré-histórica se encolhendo às minhas pauladas. Caio Túlio me causa asco indescritível, não posso garantir que se o encontrar não lhe dê uma chicotada na cara, ou, não, palmadas onde guarda seu "intelecto". Tenta me deixar mal com a direção da Folha e da TV globo, minhas duas fontes de subsistência. Tenta me intrigar com as duas empresas. É a autodefinição do alcagüete e do canalha menor. Sua fúria, mal reprimida, me ameaça com cem anos de prisão, se a Lei de Imprensa fosse cumprida, pelos meus preconceitos contra homossexuais, negros e feministas. Se tivesse um mínimo de cultura, saberia que é nos preconceitos que revelamos com mais clareza nossos instintos e simpatias. Mas o que é Pascal para um petelho? Caio Túlio é ridicularizado e menosprezado por todos os seus colegas, a quem persegue com mesquinharias suburbanas de bedel. Nunca ouvi uma opinião favorável. Não inspira ódio. Só se odeia quem se respeita."

- Walll!!

A fonte é o livro do próprio Caio Túlio, " O Relógio de Pascal".


-Dan-

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O dia do Armageddon


Segundo o calendário Maia, o grande oráculo do Oriente I Ching, e um programa de horóscopo na internet, o mundo terá seu derradeiro fim no ano de 2012. Não a toa algumas pessoas já andam profetizando por aí que estamos vivendo o Apocalipse. Mas eu nao achei que a coisa fosse ficar tão séria assim.
Tá bom, você deve estar lendo este post pensando "esse Joao inventa cada coisa... imagine, levar a serio um troço desse...". Pois tenho que vos confessar, caros leitores, que, desta vez, fiquei estupefato quando vi a notícia. Minha reação foi mais ou menos como ter lido, há alguns anos, em entrevista do ex-presidente Collor na revista Playboy, o famigerado afirmando cinicamente ser a reencarnação de Dom Pedro II!
Na época, isto se tratava do fim do mundo e, no entanto, continuamos aqui inteiros, ou quase isso. Agora três fontes "fidedignas" apontam para uma mesma direção, tenho que, no mínimo, desconfiar.
Longe de mim desdenhar o trabalho dos outros, mas é que não acho que nos é muito tangível este tipo de acontecimento. Seria de muito mais utilidade pública prever as barbaridades que nos assolam diariamente, desde os primórdios. Assim eu poderia me precaver, por exemplo, contra as picadas de mosquito – que nesta época do ano agem com o mesmo propósito dos alienígenas do filme "Guerra dos Mundos", lembram? – ou, então, contra as altas imprevisíveis do dólar.
Me parece que prever o fim do mundo é a menina dos olhos de todo profeta. Eles adoram tal condolescência, além do mais quando saem numa reportagem como esta. Não vou citar fontes, mas digo que foi numa dessas revistas sobre História, até porque toda história tem seu fim, inclusive esta. Aliás, a parte que eu mais gosto de toda a historia é o final, não sei se pelo enfado ou pela curiosidade. A verdade é que do fim todos temos certeza, mas a maneira como termina, somente recorrendo aos oráculos para saber.
Um deles, em momento de pura arte, descreve como iria se dar tão “ilustre” evento. "O céu cobrir-se-á de nuvens negras, e a terra será tomada por terremotos dantescos, raios causarão terror nos quatro cantos..." - em tempos de aquecimento global nao acredito que poderia ser diferente - então você já sabe: se o tempo fechar em 2012, prepare-se. Ou é o prenúncio do que está por vir, ou é certeza de enchente.

Joao Vicente

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Vai um afogamento aí?

Comecei um texto, aquele da foto de Sérgio Cabral, falando sobre a tortura em Guantánamo, que Bush chama pomposamente de “métodos duros de investigação”. Pois muito que bem, leio esta semana que o Pentágono vai pedir pena de morte para os suspeitos de terem participado dos atentados de 11 de setembro. Só que alguns detalhes chamam a atenção: detalhe 1- o julgamento será feito por uma gororoba chamada “tribunal especial militar” detalhe 2- o principal acusado é réu confesso. Réu confesso por réu confesso, a CIA também é. A agência “confessou” ter utilizado a tortura no interrogatório de Sheikh Mohammed, o tal réu confesso, ou melhor, “métodos duros de investigação”. Simulação de afogamento, para a CIA, não é tortura. Então o que é? Cócegas com penas de ganso? Sessões de filmes do Godard? O mais horripilante desta história é que, ao contrário de Sheikh Mohammed, nenhum agente da CIA foi torturado para revelar que a tortura foi usada. De maneira muito natural, come se fizesse um anúncio administrativo, a agência admitiu que usou o afogamento. E quem não gostou, que se afogue. Não que isso isente os acusados da culpa. Os indícios todos levam à turma de Sheikh Mohammed, mas a CIA, que se pretende uma agência de inteligência, poderia ter usado um pouquinho mais este atributo, em vez da velha truculência covarde, à moda Kissinger. Depois, os americanos não sabem porque sua imagem é tão negativa no resto do mundo. Mas Obama vem aí. É negro e democrata. E o Pentágono vai continuar realizando suas atrocidades diárias, mas ninguém vai se lembrar disso, afinal, ele é negro e democrata.

-Dan-

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Fugindo da folia


Numa dessas tentativas arriscadas de sair de casa para fazer outra coisa que nao seja ir a um bloco de carnaval, fui ver Paranoid Park, filme "adolescente" de Gus Van Sant e que vale a pena conferir.
Cheguei no cinema, obviamente, atrasado e também ansioso, pois este é um dos filmes mais esperados depois de Elefante, obra que ganhou melhor diretor e filme em Cannes. E, ao contrário de todo mundo, ainda me sinto adolescente, não sei se pela ansiedade, ou pela ousadia com que se tem todas as respostas, ou então pela desilusão em ter de se moldar a um senso comum que restringe, cada vez mais, o jovem e não garante a expansão de sua liberdade – esta muito bem abordada pelo filme.
Vi, recentemente, um assassinato entre três universitárias na Virginia, onde uma delas havia se matado. Aí eu fico me perguntando: serão estes atos os mesmos acometidos aqueles que amarram um cinto de granada na cintura e entram num ônibus no meio do centro da cidade no horário de saída do trabalho? O filme de Van Sant trata deste adolescente: produtor de consumo e inserido numa sociedade não palatável, isto graças a rapidez e volatilidade com que testemunhamos a realidade de hoje. Alheio a isto tudo, está a perplexidade.
Além de fazer o que poucos se arriscam por serem convencionais demais – o uso da câmera lenta e a trilha bem trabalhada faz com que som e imagem dialoguem com a narrativa dando intenções ambiguas ao expectador – o diretor foi tambem feliz na escolha do argumento. O tema é mais do que engajado, pricipalmente após Tiros em Comlumbine onde o famigerado Michael Moore traça um perfil beligerante da sociedade americana a partir da causa de dois adolescentes que abriram fogo contra os alunos da escola onde estudavam, em Columbine, Arizona.
Gus faz o caminho contrário: ao invés de apontar as implicações sociais do comportamento do adolescente americano atual, ele nos leva para dentro da cabeça deste garoto. Em alguns instantes você está seduzido por toda aquela atmosfera que ronda sua vida e que ocupam a sua mente. Lá estão todas as dúvidas que você tinha na adolescência e até outras que te arrebatam, hoje, todos os dias. Em uma pura sensação de alívio, as respostas não nos importa muito, mas a compreensão e a maneira como é encarada a realidade pelo menino.
Nao se trata de um Kids, que aborda o adolescente como uma catarse apocalíptica, se auto-destruindo em drogas e festas – males da sociedade moderna de consumo. Gus Van Sant, de 56 anos, consegue encontrar na psicologia adolescente a verdadeira essência da alma humana.

Joao Vicente

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Bonitinha e ordinária

Ps: Estamos em falta de cedilha e til


Desilusoes amorosas? Dívidas no banco? Problemas com a Justica? Venha passar uma temporada em Buenos Aires! A cidade é pra lá de bonitinha, principalmente os bairros de Ricoleta, Canitas e Puerto Madeira. Arquitetônicamente, deixa Rio e Sao Paulo no chinelo. Os precos muito baixos e a restituicao de impostos para turistas tambem ajudam a esquecer qualquer agrura, qualquer problema, ainda que nesta época do ano os brasileiros invadam a cidade como hordas de bestas selvagens e famintas. O que mais me chamou a atencao, de início, foi a absoluta ausência de pombos e mendigos. Pus-me a fazer as mais bizarras conjecturas: "teria um prefeito fascista mandado exterminá-los? Teriam os mendigos comido os pombos e morrido de infeccao? Teriam os pombos comido os mendigos e morrido de infeccao?". Com o passar dos dias, porém, percebi que há, sim, mendigos e pombos. E buracos na rua. E favelas. E barulho, muito barulho. Apesar da beleza e do clima agradável da cidade, é sempre bom lembrar que a Argentina é só mais um paìs pobre, muito pobre, ainda mais depois da crise dos anos 80 que massificou o desemprego e transformou executivos em taxistas. Mas o subdesenvolvimento argentino é mais pitoresco, mais engracadinho que o nosso. As favelas sao mais coloridas, os bêbados mais interessantes, e eu, confesso que deve ser mais agradável sofrer um assalto na bela Rua Caminita, na Boca, do que no calor insuportável da Rua da Alfândega

-Dan-