domingo, 10 de fevereiro de 2008

Fugindo da folia


Numa dessas tentativas arriscadas de sair de casa para fazer outra coisa que nao seja ir a um bloco de carnaval, fui ver Paranoid Park, filme "adolescente" de Gus Van Sant e que vale a pena conferir.
Cheguei no cinema, obviamente, atrasado e também ansioso, pois este é um dos filmes mais esperados depois de Elefante, obra que ganhou melhor diretor e filme em Cannes. E, ao contrário de todo mundo, ainda me sinto adolescente, não sei se pela ansiedade, ou pela ousadia com que se tem todas as respostas, ou então pela desilusão em ter de se moldar a um senso comum que restringe, cada vez mais, o jovem e não garante a expansão de sua liberdade – esta muito bem abordada pelo filme.
Vi, recentemente, um assassinato entre três universitárias na Virginia, onde uma delas havia se matado. Aí eu fico me perguntando: serão estes atos os mesmos acometidos aqueles que amarram um cinto de granada na cintura e entram num ônibus no meio do centro da cidade no horário de saída do trabalho? O filme de Van Sant trata deste adolescente: produtor de consumo e inserido numa sociedade não palatável, isto graças a rapidez e volatilidade com que testemunhamos a realidade de hoje. Alheio a isto tudo, está a perplexidade.
Além de fazer o que poucos se arriscam por serem convencionais demais – o uso da câmera lenta e a trilha bem trabalhada faz com que som e imagem dialoguem com a narrativa dando intenções ambiguas ao expectador – o diretor foi tambem feliz na escolha do argumento. O tema é mais do que engajado, pricipalmente após Tiros em Comlumbine onde o famigerado Michael Moore traça um perfil beligerante da sociedade americana a partir da causa de dois adolescentes que abriram fogo contra os alunos da escola onde estudavam, em Columbine, Arizona.
Gus faz o caminho contrário: ao invés de apontar as implicações sociais do comportamento do adolescente americano atual, ele nos leva para dentro da cabeça deste garoto. Em alguns instantes você está seduzido por toda aquela atmosfera que ronda sua vida e que ocupam a sua mente. Lá estão todas as dúvidas que você tinha na adolescência e até outras que te arrebatam, hoje, todos os dias. Em uma pura sensação de alívio, as respostas não nos importa muito, mas a compreensão e a maneira como é encarada a realidade pelo menino.
Nao se trata de um Kids, que aborda o adolescente como uma catarse apocalíptica, se auto-destruindo em drogas e festas – males da sociedade moderna de consumo. Gus Van Sant, de 56 anos, consegue encontrar na psicologia adolescente a verdadeira essência da alma humana.

Joao Vicente

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