quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Sobre um time de futebol

Quatro letras, um destino: SINA. Eu não sou supersticioso. Não sei se é bem superstição a palavra, acho que é mais sina mesmo. Não é o goleiro, não é o juiz, não é o meia-armador, não é o doping, não são os 44m do segundo tempo. Acho que é sina mesmo. Contra o destino, dá para tentar mudar. Contra a sina não. A sina gruda, a sina adentra, a sina impregna. Não tem explicação. Para tudo na vida, no mundo há explicação, para a sina não há. É um fenômeno, não sei se posso chamá-la assim, pois não tem sinônimo, não tem definição, não tem nada. São quatro letras. Quem será que inventou essa palavra. Não olho a definição no dicionário porque assim ela é ainda mais auto-explicativa. Mais interpretativa. E também, confesso, tenho um pouco de medo. Não sei se existe em outras línguas. Não precisa. Só que no Brasil, ela precisa existir. Mais precisamente no Rio. Porque só ela pode explicar. Não é o goleiro, não é o destino. Não é o juiz, não é azar. Não é nada. Ou melhor, é sim. É tudo. Poderia ser o feminino de sino, mas era muito pouco para ela. Sino significa o mesmo para mim, para você, para o Tom Cruise, para o Papa. Mas ela é muito mais do que uma fêmea de um troço que faz barulho e fica em igrejas. Portanto, possivelmente você não entende bem o que eu quero dizer. Essa declaração não é de um torcedor de futebol revoltado, é um simples desabafo de quem acha que essa palavra é pouco explorada. Mas eu sei bem o que ela significa. Eu acredito nela. Mas ela é ruim. Muito ruim. Mas um dia eu pego ela. Nem que eu tenha que fazer da parte da próxima comissão do Aurélio.

Júlio

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Shhh.....

Não foi Renan Calheiros o maior vencedor de todo este processo que se arrastou no Senado. Foi Marilena Chauí, filósofa da USP.
Na época do mensalão, Marilena, do alto de sua vigarice intelectual, decretou: "o mensalão é uma criação fantasmagórica da mídia". Muito coerente com a tese que defende no livro "Simulacro e poder- Uma análise da mídia", a de que a grande imprensa é anti-democrática, pois está a serviço dos interesses do capital.
É a tese de dona Marilena que serve de álibi para os maiores escândalos- como este último. Ouve-se nas palavras de Renan o eco das teorias da filósofa: "Isto não passa de intriga da mídia", ou " A elite quer me derrubar". A mesma conversa mole de sempre.
Lembro que Marilena só deu aquela declaração infeliz sobre o mensalão porque acusava-se, então, à época, os intelectuais de passividade e omissão frente à crise. Mas tudo que eu tenho a dizer para eles agora, quase todos é: silêncio, intelectuais, silêncio...

Dan

VERGONHA

Porra, eu sou um palhaço em acreditar que o PT olha pelo Brasil e que os outros partidos só querem chupar o sangue da nação. Com a absolvição do Renan Calheiros (PMDB-AL) ficou evidente que o PT, agora no poder, tem medo de bater de frente com outros partidos. O partido estava com a faca e o queijo na mão para cassar Calheiros, mas encolheu-se, acovardou-se diante de um PMDB que ocupa muitos cargos do governo e é maioria no Senado federal. São 19 senadores do PMDB contra 12 do PT. Em minha visão, o Partido dos Trabalhadores preferiu fugir da raia - com medo de ser boicotado em projetos futuros, que travar batalha política contra o PMDB.
O partido colocou interesses políticos na frente dos interesses da sociedade. Ele colocou o Brasil em segundo plano. Isso é inadmissível. Um exemplo mais do que claro dessa sacanagem e desse descaso conosco foi o do senador Aloísio Mercadante que preferiu abster-se do que votar a favor da cassação. O senador foi eleito com 10 milhões de votos e era imprescindível tomar uma posição e não ficar em cima do muro como fez. Com essa atitude ele cuspiu na cara de 10 milhões de brasileiros. Logo o PT, que levanta a bandeira do social, pisou em cima de nós. Que levanta a bandeira da luta política, fugiu como um carneirinho assustado.
E o presidente Lula? Em suas viagens ao exterior dizia: “O que for decido do senado terá de ser acatado pela sociedade”. Acatar essa decisão é o cacete. Eu não concordo com a absolvição. Acho que o Lula mostra-se um perfeito omisso nesse tipo de questão. A decepção é um sentimento que acredito compartilhar com a maioria dos eleitores do PT. Eu sou um palhaço, eu votei no PT.

Lucas

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Tropa, depois de visto

Finalmente assisti a Tropa de Elite. E, ao contrário do que previ no último texto, não achei o filme maneiro. Muito pelo contrário. Achei o filme uma merda. Vou tentar basear da forma mais clara meus argumentos. Para começar, a cena que achei mais idiota e mais me irritou. A discussão na sala de aula, passada na PUC, não poderia ser mais imbecil e caricata. “Uma vez fui muito mal tratada numa blitz indo para Búzios”, ao que os outros colegas de classe confirmam e também falam das agressões que já sofreram pela polícia. E o professor olha aquilo tudo como se tivesse estarrecido com tais informações. O jovem policial negro discorda, usando os argumentos totalmente estapafúrdios. Que cena idiota (desculpe se já usei idiota anteriormente, mas também já usei estúpido, imbecil...não lembro de um adjetivo diferente agora.) A cena em que a menina da ONG, amiga da menina que o policial negro “dá uns pegas” no final, morrendo com um tiro na cabeça é horrível, bem como a do “playboy” queimado nos pneus. Horrível e desnecessária. Enfim, não dá para descrever todas as cenas que achei horríveis, imbecis, idiotas... O filme, como um todo, é uma seqüência de estereótipos. O policial negro, que sofre preconceito. Os playboys maconheiros idiotas, que são os culpados pela violência da cidade. Além do que, o filme coloca os que participam de ONGs como “mauricinhos e patricinhas que querem fazer algum bem aos pobres”, e recomenda que não façam isso. Tudo bem, eu sei que documentário é uma visão parcial, é a opinião de uma pessoa, tudo bem... Mas também posso dar minha opinião sobre a opinião de uma pessoa: idiota, superficial, caricata, estereotipada. Ah, o filme não tem nada legal? Tem. A história da BOPE e suas atribuições por si só já são muito interessantes e intrigantes. Foi uma sacada muito legal fazer um filme sobre isso. Além da atuação soberba de Wagner Moura, as cenas de ação e tiros na favela são muito bem feitas e produzidas. Mas isso era o mínimo para um filme que custou mais de 10 milhões de reais. Honestamente, prefiro os poucos recursos, mas a visão muito mais equilibrada e lúcida de “Notícias de uma guerra particular”. Temas tão delicados cabem muito mais no formato de documentário do que numa ficção a la Tarantino.

Júlio

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Tropa

Ainda não vi Tropa de Elite. Não que eu seja contra a pirataria. Simplesmente não vi porque não consigo baixar vídeos no meu pc e também não tenho essa ânsia de ter que ver o filme logo. Mas acho que deve ser muito maneiro. Aí que está o problema e o ponto central do texto que se segue. Filmes sobre a situação do tráfico no Rio de Janeiro não são mais reveladores ou denunciadores. São maneiros. Outro que está por estrear ou já estreou, sei lá, é “Cidade dos Homens”, o filme. Depois do seriado na Globo, com grande audiência, viu-se que poderia se tornar um produto cinematográfico. Como tudo, a violência, em especial o tráfico do Rio, também é um produto. E só o é porque tem público, tem audiência, e por que não, admiradores. Eu acho que a gente (eu me incluo) acaba gostando de ver filmes sobre esse assunto, tem uma certa fascinação. Não sei exatamente o porquê. Têm ação, têm gírias (as que a gente fala), além do que, inegavelmente, é uma realidade muito próxima da nossa. Ou, melhor, é a nossa realidade. Mas o caráter revelador, denunciador, já passou. O pioneiro “Notícias de uma guerra particular”, por exemplo, já abordou a corrupção na polícia, o “arrego”, as crianças de 12 anos que pegam em fuzis e tudo mais. Isso para quem não sabia. Mas agora que a gente já sabe de tudo isso, esses filmes são meros produtos de entretenimento. Posso estar enganado. Tomara que sim. Pode ser que o tempo mostre que eu estou equivocado e esses filmes ajudem a acabar com o tráfico no Rio. Mas enquanto isso não acontece, vou comprar uma pipoca e ver Tropa de Elite, que deve ser muito maneiro.

Júlio

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Vergonha

Desculpem o texto seguido, mas é importante. Hoje, senti uma tristeza que há muito tempo não sentia, quando entrei no banheiro do nono andar da UERJ. Ele estava alagado, completamente alagado. E duas das três pias estavam destruídas. É normal ficar triste quando se vê uma criança no sinal ou uma velhinha pedindo esmola na rua, mas, hoje, com o banheiro alagado, foi diferente. Foi também revolta, indignação, alguma coisa que não tem nome.
É impressionante o descaso, o desrespeito da administração pública pelo ser humano. A manutenção de um banheiro não depende de verba. Depende de vergonha na cara.
Diante desse quadro dantesco da gestão pública, é risível que se faça um plebiscito em favor da reestatização da Vale do Rio Doce. É um tapa na cara de quem conhece a realidade do poder público. É entregar o ouro ao bandido.
Sou contra as privatizações. É uma perda de tempo. Deviam dar tudo. Dar a Petrobrás. Dar a Caixa Econômica, o Banco do Brasil, tudo. Podia ser, quem sabe, o prêmio da mega-sena, sei lá. Mas do jeito que está não pode ficar.
Luta de classes no Brasil, só entre estado e sociedade. O resto é ficção, é delinqüência intelectual.

-Dan-

sábado, 1 de setembro de 2007

Ah os meus botões...

Tenho um Ipod dentro de mim. Enquanto muitos recorrem ao aparelhinho para amenizar a chatice de longas viagens de ônibus ou eternas esperas nas salas de espera, eu recorro aos meus botões, meus doentios botões para me distrair.
Me divirto mesmo, chega a ser uma das horas mais agradáveis do dia a ida à faculdade. No caminho, que para muitos é insuportável sem um Ipod, eu percorro caminhos inusitados, componho, cantarolo, construo fabulosas teorias sobre a natureza humana, enfim, é como se houvesse um parque de diversões ou um vídeo-game dentro da minha cabeça.
Outro dia, relendo uns pedaços de Quincas Borba, me deparei com o capítulo CLXII, em que o velho Machadão explica de maneira genial isto que aos trancos e barrancos eu tentei explicar nos primeiros parágrafos deste texto. Lá vai:

” A expressão: “Conversar com os seus botões”, parecendo simples metáfora, é frase de sentido real e direto. Os botões operam sincronicamente conosco; formam uma espécie de senado, cômodo e barato, que vota sempre as nossas moções.”

Ipod, vídeo-game, senado...temos tudo isso e muito mais na cachola, de graça, então, por quê não usar?


-Dan-