segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Em favor da banalidade dos fatos banais

-Dan-

É só puxar o fio que aparece o novelo. Newton procurou uma sombra e descobriu a gravidade. Arquimedes foi tomar banho e – Eureka – descobriu a lei do Empuxo. Cabral foi atrás das Índias e deu no Brasil. O fato mais banal pode esconder um mundo por trás. Digo isso porque as pessoas são muito previsíveis, e é fácil saber como elas são a partir de informações a princípio sem muita importância.

Exemplo Gastronômico
Pedro gosta de arroz integral. E de legumes orgânicos. Pedro, portanto, acredita que a Monsanto enche suas beterrabas de veneno. Ele não gosta do agronegócio e sonha ter uma horta em sua casa em Rio das Ostras. Se o sonho de sua vida é ter uma horta numa casa em Rio das Ostras, Pedro deve ser professor.

Exemplo Literário
Dr. Osmar acabou de ler “A Vida dos Doze Césares”. Necessariamente, o doutor tem barba grisalha e nuca vermelha. O colete xadrez (alguma dúvida quanto ao colete?) denuncia o conservadorismo de Dr. Osmar, que vai ao Gero às terças com seu amigo, o coronel reformado Borges. Ambos se divertem maldizendo o PT e o maitre.

Exemplo Cinematográfico
Eu gosto de Terra em Transe, o que supõe que eu seja bastante brasileiro e tenha modos toscos à mesa. Tenho traços indígenas. Quando falo, falo encostando. Bebo cachaça e como galetos de padaria. À noite, ronco como um urso.

Concluindo, a ignorância tem lá suas virtudes. Se não fosse a curiosidade, Cabral não teria descoberto o Brasil, e eu não teria descoberto o urso que tenho em mim, e o Cazuza não teria pago a vultosa conta do analista.