quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Invadindo o sertão

Olho para minhas sandálias e vejo um par de alpercatas. Minha árvore de natal é um juazeiro definhado, de galhos torrados, retorcidos. Há em cada porteiro da Barata Ribeiro um jagunço em potencial, prestes a desembainhar seu facão e escalpelar o síndico como um preá. Isso é o que acontece com quem se mete com o tal regionalismo modernista. Imagine-me desalentado, com o rosto desfocado, dizendo: "Crianças, nunca comecem. É um caminho sem volta". As imagens da seca, das paisagens mortas, da terra vermelha e rachada fixam-se de uma forma na mente do indivíduo que mais parecem um assentamento do MST. Os esqueletos das cabras e jagunços erguem-se brandindo armas e reivindicando um pedacinho da sua cabeça, exatamente aquele que o funk e a maconha tornaram improdutivo. A redenção, porém, para um "sertanista" como eu, vem com Vidas Secas. Aqueles cangaceiros brutos que invadiram minha cachola depois de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Grande Sertão: Veredas" têm suas rústicas cacholas invadidas por Graciliano Ramos. É um contra-ataque, um regôzijo, a doce vingança. Quebrar o sigilo psicológico do vaqueiro Fabiano ou da cachorra Baleia não expulsa os açudes secos e os seixos em brasa de nossas cucas, mas consola, mostrando que podia ser pior, bem pior. Essas imagens terríveis que se espremem num cantinho abandonado da minha imaginação são, para gente como o vaqueiro Fabiano, as únicas imagens possíveis.

-Dan-

Um comentário:

Anônimo disse...

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