sexta-feira, 20 de março de 2009

Celebridade praiana

Nao queria ter contado mas fomos parar naquela boate pela presenca ilustre de uma celebridade entre os veranistas. Do qual tinhamos ido a casa na praia mais badalada da cidade e, por forca do destino, feito uma verdadeira amizade. Nessas horas em que uma comunidade de donas de casa param durante uma hora e meia em nome da teledramaturgia brasileira, nós, cariocas, que estamos muito proximos das celebridades no dia-a-dia, em festas e eventos é quando ficamos a um passo do horario nobre.Digo um passo literalmente; pra falar a verdade, um braco de um seguranca da area vip, se nao é a gloria - o que aconteceu neste caso - quando conseguimos ficar la dentro, entre os vips. Ai sim, voce esta no horario nobre. Olhei para os lados para ver se tinha alguma coisa errada, ao que me deparo com a primeira atriz conhecida. Ela dancava com a maior energia, balancava o cabelo pra cima e pra baixo igual aos caras do iron maiden, o dj mandando ver no BARRY WHITE e, o que é estranho, foi um alivio quando percebi que ninguem ia me colocar pra fora por estar pensando merda sobre os outros. Ao me ver ali entre os mais consagrados artistas da minha geracao bebendo e falando besteira, nao pude conter minha simpatia e curiosidade, fui tentar claro um approach entre as estrelas. Uma das mais famoas era Gertrudes Malafaya, da novela das 6. Ela me fazia delirar nos aureos tempos de "Com a Corda no Pescoco" ou entao - nunca vou esquecer - quando ela apareceu nua na sessao de fofocas de uma revista sobre politica, em meio a escandalos dos parlamentares. Dizia isso para um amigo no bar quando avistei Gertrudes, parecia que tinha acabado de sair do mar e vinha em minha direcao numa manevolencia de garota de ipanema. Se aproximou do garcom e pediu um sex on the beach. Eu aproveitei para oferecer um mas ela preferiu conversar antes.Conversamos durante horas, de maneira intensa e divertida, um tipo de papo que te leva pra algum lugar no final, de preferencia na praia, mas ai eu falei que estava escrevendo um livro e ela nao entendeu, disse que nao estava interessada. Ainda me disse mais, que, por coincidencia, estava a procura de sua personagem numa peca sobre a relacao espacial entre os livros e as mesas de centro no ambiente urbano. Nao que eu queria decepciona-la, mas o que eu gostaria mesmo era de ter na minha mesa de centro, a Gertrudes Malafaya. É impressionante como o pessoal do showbusiness adora falar sobre trabalho. Dizem que tem profunda relacao com a sua proxima obra e arrematam um bloquinho para anotar cada palavra. Sempre me opus a falar sobre trabalho em ocasioes sociais - ainda mais num lugar descontraido onde nos estavamos, tocando musica boa(barry white ainda), nao é pra ficar ocupando a cabeca com aporrinhacoes.Tratei de ir em direcao a pista, aquele papo de trancedencialismo e arquetipos sociais ja estava me fatigando, foi ai que eu dou de cara com quem: Andrey Savagi, galã da pornochanchada da decada de 70. Havia alguma coisa de errado com ele, percebia em Andrey um ar meio abatido, andava pelos cantos do balcao tomando seu wisque, sem alguma estirpe que possuia no anos rebeldes, de um exmilitante pro democracia, e a inteligencia e perspicacia com que se sucedia nos debates. Quando cheguei mais perto vi realmente que estava bebado. Chamava a atencao dos colegas e causou vergonha para a classe que sempre prezou pela falta dela. Eu como humilde fan fui la tentar ajudar mas ele nao quis, a revolta por nao ter mais o brilho de outrora misturava-se com o orgulho de ser uma lenda viva do cinema brasileiro. De supetao, Andrey Savagi teve uma crise e partiu pra cima de mim com dois copos de wisque nas maos. Eu corri deseperadamente, nao sabia se ficava preocupado por ter um bebado querendo me pegar ou se lisongeado por ser uma estrela como Andrey Savagi.Eu consegui me livrar mas Gertrudes acabou levando a sobra - os dois copos de wisque, mais precisamente. Eu imaginei quando resolveram dar drogas de graca para os convidados, mas nao sabia que ia sobrar pra mim, quer dizer, nao exatamente. Os dois copos arremessados por Andrey Savagi deixaram o rosto de Gertrudes Malafaya completamente dilacerado, ainda bem que os paramedicos chegaram em um instante, pareciam que ja estavam ali dentro esperando Andrey jogar os copos. Eu fiquei desolado com a cena, uma parte de mim que havia sido construida ali naquela boate foi embora com Gertrudes e os paramedicos. Nunca estive tao perto de uma celebridade como ela, e agora nunca mais vou ve-la da mesma forma. Sua aparencia nao sera a mesma, e nem a cutis de pessego que nutria desde jovem. Para sempre ficara marcado na minha memoria o econtro com a musa dos vespertinos semanais.

João Vicente

Nenhum comentário: