quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

A lua e o pescador

A lua e as estrelas estampam o mar da madrugada. Os cães, a espera da cadela amada, ladram à solidão. O marinheiro acerta as velas enquanto o vento morno carrega seu saveiro em direção aos mistérios do oceano negro. O barco corta as ondas embalado por um samba antigo. A música ganha vida na voz triste e rouca do marítimo. Sozinho, ele sonha encontrar a sereia, torce para que ela leve-o para as profundezas do mar escuro, onde tudo é silêncio, onde dor não há, onde o perfume dos longos cabelos queimados pelo sal lhe fará conhecer o amor que tanto falta. Amor que ele não encontra nas negrinhas do cais, amor de carne e alma.
Ele chora a solidão oceânica e espera, dia após dia, o canto da mulher-peixe invadir-lhe os ouvidos. Seu samba assemelha-se ao ladrar dos cães angustiados. Uivando a exaustão, eles observam o amarelo da lua cheia abrir caminho no preto mar da noite. Caminho eterno aberto noite após noite. O desejo mais profundo do pescador, dos cães, dos poetas, dos boêmios chorosos e de todos solitários notívagos é que, algum dia, nem que seja o último das suas vidas, a lua deixe de ser sua única ouvinte.

Lucas

Um comentário:

Anônimo disse...

esse pescador precisa de uma dr. Jivago