segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Livros, esses sacanas!

Livros são como atores que expõem suas verdadeiras faces no desenrolar da cena. Às vezes, mesmo com o fim do ato, você fica sem saber sua real personalidade. Livro tem personalidade sim, acreditem. Eles são poderosos, têm poder de ludibriar, falsear sensações. Desgraças tomam ares festivos dependendo do estilo da escrita. Quando li as histórias da ditadura e das passeatas estudantis de 68 no livro do Zuenir senti grande vontade de estar lá, participar daquilo tudo. O episódio que conta que o Vladimir Palmeira, o Franklin Martins e sua intrépida trupe de estudantes foram ao gabinete presidencial, alguns sem paletó, “desenrolar” uma passeata sem que houvesse repressão do Estado é sensacional. Li aquilo convicto de que se tivesse vivido aquela época teria jogado pedra nos policiais. Que lutaria, participaria de todos os congressos e manifestações, que seria militante contra aquela corja de milicos. A cada parágrafo rumo ao fim da publicação, minha vontade de ter vivido aquele tempo de sombras políticas aumentava.
Quando comentei isso com minha avó – estudante de direito nos anos de chumbo – ela teve um sobressalto. “Que loucura, meu filho! Você acha que a ditadura era oba-oba? Vou te emprestar um livro que vai te fazer mudar de idéia”, disse ela quase me riscando de seu testamento. Recebi um escrito por Dom Paulo Evaristo Arns, de capa vermelha de sangue chamado “Brasil: nunca mais”, que contém relatos de quem sofreu nas mãos insanas dos militares que acreditavam ser a tortura um requintado elemento dissuasão e obtenção de informações. As descrições são pesadas, dá medo. “Deus me livre”, foi a primeira e mais repetida expressão que emiti ao ler os relatos. Bati na boca e prometi nunca mais desejar ter participado daquela época. Só de ler o que era a “cadeira do dragão” (depois te empresto) vi que a repressão às passeatas eram fichinha perto do que ocorria dentro dos quartéis, onde os muros altos abafavam os gritos de agonia.
Sei que é um desrespeito aos que viveram aqueles tempos pensar que deve ter sido maneiro ser estudante nos anos de AI-5, de participar das passeatas e pichar “abaixo à ditadura”. Mas, involuntariamente, o livro do Zuenir me fez ter uma visão errada do que foi aquele ano, e do regime militar como um todo. É, amigos, os livros têm pernas e, vez ou outra, nos dão uma rasteira. Dessa vez eu caí de cara.

Lucas

2 comentários:

Anônimo disse...

Pena que a democracia desmascarou os "heróis" daquela época. Franklin Martins tornou-se o porta-voz do governo PTralha. Cony, todo mês, toma 19.000 reais do tesouro público por ter sido perseguido na ditadura. É o bolsa-Cony

Anônimo disse...

existe tb a bolsa-militar, para os repressores. anistia aos ex-presidentes e ministros, nao so brasileiros mas de toda a America latina. absolvidos pela opiniao publica, foram os capatazes do entao regime ditatorial americano.