terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Abracadabra!

Para os que, como eu, gostam de falar mal, de zombar e tirar um sarro de qualquer coisa, a música brasileira é um campo fértil. Todo dia surge uma nova banda, saudada por todos como “a salvação do rock” (rock lá tem salvação?), a “ressurreição do samba”, a “repaginação da MPB” , e por aí vai. A febre do momento (para além da amarela) é um tal “Teatro Mágico”, uma banda performática, que reúne malabaristas, dançarinos, palhaços, jogadores de cricket, virgens acorrentadas, ursos polares estrábicos e, finalmente, músicos!
O grande sucesso da banda começa com o singelo verso:

"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"

Pra quê Drummond? Pra quê Kant? Pra quê Mozart? O Teatro Mágico está aí, com sua sabedoria transcedental. Não pegaria no pé de alguém que canta “ foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar”, porque, apesar de ser meio kitsch, meio brega, popularesco até, é honesto. Não há nesse verso o cinismo do verso teatromagiquiano. Não acho que a simplicidade é uma virtude, mas, cabe aos simples, fazerem coisas simples. O resto é conversa, é enganação. Paulinho da Viola nunca tentou passar algo além daquilo que é. Nunca tentou filosofar, não é um enganador.
O Teatro Mágico (nome tirado de um livro de Herman Hesse) se quer portador de uma mensagem, de uma profundidade filosófica que simplesmente não possui. Com suas letras enigmáticas, finge ser o que não é. Se você não entendeu o sentido do verso acima, é porque, de fato ele não tem sentido. É só um trocadilho infame.
Em outro verso, os camaradas parecem reconhecer que, à moda argentina, são muito menos do que pensam ser. Ei-lo aí:

Pra falar verdade, às vezes minto
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto

-Dan-

Um comentário:

Anônimo disse...

ultima frase do 1o paragrafo: sensacional! hahahahahahhhaa