Desde seus primórdios, a zona sul do Rio de Janeiro caracterizou-se pela função residencial e pelo contexto social heterogêneo, pelas pessoas que chegavam atraídas pelos preços razoáveis dos lotes, pela praia e pela beleza paisagística.
Entre as camadas sociais que repartiam a região no início da segunda metade do século, preponderava a classe média, e tocou-lhe implantar, intuitiva e experimentalmente, um código de disciplina à sua conveniência, com normas um tanto ambíguas e eufemísticas para mascarar a supremacia natural decorrente de sua expressiva superioridade numérica, todavia sem as cláusulas peçonhentas e a arbitrariedade do appartheid clássico.
Esta acidez dissonante de cidade grande que chegava pela arrebentação, foi o que esculpiu a sociedade carioca nos dias de hoje. É neste aquário humano que convivem separadamente cada camada social da população brasileira, num microcosmos de absurdos e convivências que nos remete ao verdadeiro sentido da nossa historia.
Com a chegada da corte em 1808, trazendo consigo uma legião de nobres portugueses, muitos moradores foram obrigados a ceder suas casas aos forasteiros. Tais políticas permearam toda a monarquia brasileira que ainda não parecia ter amadurecido mesmo depois da formação de um Estado Nacional. Todos os projetos de interiorização, de formação de um mercado interno, de educação da população, vieram a enriquecer esta desconhecida elite que, destituída de traços brasileiros, julgava o povo como entrave aos seus "ideais".
Todos, sem exceção, foram bem sucedidos, desde a independência até a reformulação democrática de 89. Tudo na base do acordo, do jeitinho, sem rupturas, sem revolução. Ora, meus amigos, o Brasil é um país que deu certo, haja vista o que foi projetado para ele.
Somos nós, moradores da zona sul carioca, herdeiros dessa elite estrangeira e inescrupulosa que fez do Estado brasileiro uma panela de acordatas sem ideais, sem causas, sem futuro. Uma pendenga de disses-me-disses que se encerra em si mesmo.
Joao Vicente