quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Arte, arte, arte....

Os movimentos dos anos 70 caducaram. Não que hippies, feministas, libertários e afins tenham sido idiotas inúteis ou que eu esteja negando sua herança. Não é isso. Devemos muito a eles? Claro. O legado deixado por essa geração é, grosso modo, positivo? É. Mas esses movimentos caducaram no sentido artístico. Não vou falar aqui nem dos excessos e hipocrisias dos movimentos moderninhos que se dizem libertários. Fica pra próxima. Quero falar do esvaziamento artístico da psicodelia, da anarquia, do "vale-tudo".
Para isso, nada melhor que a covardia do exemplo, que é a "forma com que se definem as coisas indefiníveis", segundo Fernando Pessoa. Ney Matogrosso foi o grande nome do "glitter" no Brasil, símbolo da liberdade sexual e do "crepúsculo do macho", como diria Gabeira. Isso em seu tempo era, por si só, arte. Chocar uma sociedade é sempre arte. Sade na França e Wilde na Inglaterra teriam sido, dessa forma, os pais artísticos de Ney e um José qualquer que, num grotão conservador perdido do Brasil, amanhã ou depois, vier a se vestir de plumas e paetês, será filho artístico de todos estes. Mas o que faz Ney continuar sendo respeitado e ouvido na música, na arte, fazendo ele parte de uma sociedade (urbana, moderna, industrial) que já não se choca com a extravagância glitter? Simples- a qualidade. Ney não quis ser para sempre a "bicha velha", um ser exótico, um Serguei, alvo de curiosidade e, no máximo simpatia. Evoluiu, acompanhou a mudança dos tempos e percebeu que o espírito de nosso tempo é libertário e, portanto, a liberdade já não causa impacto, não é novidade, não é arte.
Em uma sociedade permissiva, flexível, "líquida" e, por que não, medíocre como a nossa, a única subversão possível é a qualidade. Seja bom no que você faz. Assim como Romário, nosso artista maior.

Dan

2 comentários:

Anônimo disse...

Ainda bem que a liberdade já não é mais uma novidade. É uma conquista definitiva. E, sem dúvida, devemos muito disso a essas pessoas.

Anônimo disse...

Devagar com o andor, que nada é definitivo neste mundo. Sempre existirão os autoritários, as viúvas das ditaduras e do moralismo!