quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A lama do vizinho e eu

Que a crise americana se agrava a cada dia todos sabem. A incógnita é como a merda do cachorro do vizinho irá feder na casa da gente, os pequenos burgueses tupiniquins. Navegando pela internet, vi a notícia de que, além dos tantos pedidos de socorro de bancos de investimento e seguradoras ao governo norte americano, a gigante dos softwares Microsoft também recorreu ao FED para estancar ferimentos da crise. “Que legal! O preço dos computadores irá baixar”, disse a um colega de trabalho, muito mais experiente e sábio do que eu. “Lucas, com todo o respeito, deixa de falar imbecilidade, garoto. Pensa direito no que você acabou de dizer”, respondeu-me, cuspindo. Ainda sem graça comecei a pensar.
O quebra-quebra dos bancos provoca uma enorme redução mundial do crédito. Ou seja, os empréstimos ficam mais escassos e com juros mais caros. Ninguém tá com colhão de deixar seu dinheiro na mão dos outros. Se o JP Morgan – um banco de 150 anos – quebrou, o que garante que outras empresas não terão o mesmo fim? A crise atinge nossas empresas e nossos bancos, já que muitos tomam empréstimos no exterior ou recebem investimento estrangeiro. Tendo que honrar seus compromissos num cenário financeiramente turbulento, as empresas iniciam os cortes de custos. É aí que a porca torce o rabo, como dizia minha saudosa vóvózinha. O corte mais manjado do mundo é o passaralho, a famigerada demissão em massa.
Na hora de demitir, você acha que vão mandar embora funcionários antigos? Claro que não, despesas com fundo de garantia desestimulam tal prática. Os estagiários, temporários e terceirizados (eu, tu, ele, nós, vós, eles) são os primeiros a lamber o chão frio e ingrato da rua. É aí que a crise tenta nos bolinar por trás e o cheiro da merda gruda no nosso bigode. Já não comemoro o insucesso dos americanos.
Enquanto o Brasil não sente esse tranco, o presidente Lula tripudia da desgraça alheia. Atitude pouco nobre de nosso governante. Sob o discurso de que somos uma “ilha de tranqüilidade em meio à tempestade”, Lula só falta dizer: “Bem feito, EUA, quem mandou pisar durante tanto tempo em nós, reles subdesenvolvidos. Agora amarga uma crise que tem parte da solução escondida na economia dos países emergentes”.
Como é sabido, o governo Bush tentou aprovar no Congresso um pacote de US$ 700 bilhões para salvar o sistema financeiro. Só que ele não contava com a rasteira que o pessoal de seu próprio partido iria lhe dar. A maioria dos Republicanos votou contra, denotando uma falta absoluta de poder do Bush. Na realidade, nenhum político queria entrar no mesmo barco que um presidente que tem meros 26% de aprovação da população. Seria um suicídio político às vésperas da eleição. Nesse sentido, se a crise fosse no Brasil, onde o presidente tem espetaculares 80% de aprovação, duvido que o Lula não teria dado um jeito de aprovar esse maldito pacote, quisessem ou não os senadores. Um gaiato mais sádico diria que ele iria aprovar nem que o PT tivesse que comprar os votos contrários, feito um mensalão aparta crise. Eu acredito que ele não precisaria disso, já que, ao contrário de Bush, votar no Lula está longe de ser suicídio.

Lucas

Um comentário:

Lucas Vettorazzo disse...

Lembrando que o Pasta Amarela está com texto novo. Na verdade, é um texto que publiquei aqui há séculos, mas vale a reflexão.

www.pastamarela.blogspot.com

agora com contador de visitas.

Abraço, Bili