terça-feira, 22 de abril de 2008

Bolsa-Consciência


Alguém havia me dito que televisão não serve pra nada, serve nem ao meu desejo platônico de informação. Mas são nestes pequenos eletrodomésticos que vemos as maiores atrocidades já inventadas pelo homem. A Guerra do Golfo, que inaugurou a era das chacinas televisionadas, foi marco na categoria "impossível que é verossimil". No caminho oposto, vem a frieza dos acontecimentos possíveis, porém, inacreditáveis.
O assassinato da menina Isabella veio ilustrar este nosso desejo de sentirmo-nos dentro de um thriller de Ridley Scott, não à toa somos pegos toda hora investigando os jormais à procura de provas, ou alguma notícia que retifique sua suspeição. Embora comum, o crime ganhou notoriedade já que tivemos um contato mais próximo com os suspeitos - o pai e a madrasta. Não vou cair aqui num lugar comum onde várias criancinhas, com ou sem pais, são mortas diariamente e de forma ainda mais brutal. O problema que envolve a tragédia se torna verossímil quando espetacularizado: é a criação do herói, ou heroina no caso de Isabella. Abraçada com o padre popstar Marcelo Rossi, Ana Carolina, a mãe da menina, tira fotos e, junto a outros artistas, posa para os paparazzi. A imagem da filha estampada numa camiseta passou a ser símbolo de torcida por justiça.
Confesso que peco um pouco quando o assunto é futebol, mas acho que a bandeira levantada quando o time está perdendo não pode ser a do Bope no alto de uma favela, nem a de uma criança no meio de uma missa. A bandeira da justiça social não é um panfleto. Muito menos folha de maconha. Tenho medo dessa moda de ter consciência social como os jovens de "Tropa de Elite", do motivo de celebrização pelas vítimas da violência.
Parece ser difícil de ver que justiça social - a principal demanda da sociedade capitalista de hoje - não tem um rosto a ser estampado, não dá pra virar embalagem numa prateleira de supermercado, ainda assim ter valor de mercado como outros projetos do Pálacio do Planalto.

João Vicente

4 comentários:

Anônimo disse...

"justiça social" não existe

Equipe Sobrecasaca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

justiça social é pegar mulé numa reuniaosinha de amigos

Anônimo disse...

bom, muito bom, jo�o... mata a cobra e mostra o pau !!!