quarta-feira, 19 de março de 2008

Parede Viva

Na mão direita, entre os dedos indicador e médio, ostenta um cigarro da graciosa. O polegar ataca as cordas do violão e dita o ritmo da juventude. A moldura preta delimita a pôster do Bob Marley feito a truculenta mão do mercado musical. Coloco-o no centro da parede. Observo. Comprei mais vários pôsteres e decorei minha vida só com gente que já deu dois passos na eternidade. Fiz uma parede mórbida com fotos de todos que, se pudesse, voltaria no tempo para vê-los no palco lançando suas rajadas performáticas. Certo dia busquei num centro kardecista a chance de ouvi-los, post mortem, com suas guitarras e violões espirituais. Desisti da idéia porque sinto um cagaço danado de fantasmas. O mais perto que consegui chegar deles foi pendurando-os em minha parede.
Dividi o quarto por setores. Do lado direito, coloquei aqueles que gostaria de ter visto pessoalmente: Bob, Fred Mercury, Hendrix, Renato Russo, Elis, Cássia Eller e etc. Do esquerdo – o do coração – pendurei os que me envaidecem. Doryval Caymi, por exemplo, habita a parte esquerda – lado do coração, coração de brasileiro orgulhoso. Está lá porque, tenho a impressão de conhecer sua obra a fundo, além de alimentar empatia paternal por aquela figurinha do bigode grisalho. A seu lado estão Vinicius, Tim Maia,Tom, Cartola, e muitos outros que me deixam saudoso de um tempo que nunca vivi.
No topo da árvore moribunda estão dois pôsteres, de dois caras sensacionais que abalaram os pais e empolgaram os filhos. Doidões com atitude rebelde, libertina, que até hoje lamento não tê-los visto. Um pecou por se entregar à poesia e ao lsd, o outro por não segurar sua libido e chafurdar-se no pó. Sim, Jim Morrison e Cazuza estão bem perto do teto do meu quarto. Rock mata cedo que nem vinho mata a timidez. Gostaria de ter visto a psicodelia do Morrison e as cusparadas de Cazuza sobre o moralismo da classe média.
Ainda que tomada por quadros, há espaço para mais. Decidi pendurar de gente viva, que viu esse povo de perto, participou das loucuras e está aí pra contar a história. Coloquei a Rita Lee ao lado do David Bowie. A primeira, porque viveu em meio às drogas e o segundo, porque deve ter deitado com o pessoal do Fred Mercury e não foi tocado pela maldita. Tenho mais três paredes no quarto, não sei com quem decorá-las. Sugestões?

Lucas

2 comentários:

Anônimo disse...

Porra, Lucas, não sabia que vc ostentava toda essa inspiração dentro de você! VLw.

Anônimo disse...

Uma salva de palmas!