domingo, 16 de março de 2008

Meu mundo é pequeno, Senhor


vidinha é o nome da minha gata. apresento. vez em quando ela foge que o frio aperta e se abre para o sol. a vidinha tem um amor no peito, sua música faz nascer a emoção. quase todos os dias vive à esmo, desfeliz, que não vê uma nesga de esperança abaixo do nariz. mas depois daquele dia em que vidinha foi amada, viveu eternamente, supriu o desespero. vinha ela, de repente, procurando rachadura numa tarde de verão. aos trancos e barrancos achou um senhorio, seu ptolomeu, da casa da frente. deu-lhe o receio, mas acolheu um pretendente. saiu a passear com o senhorio naquela tarde, conheceu o mundo e as atrocidades, de um vasto e incipente contenedor, viu que na intimidade as coisas crescem, provou um tanto de sabor, lambuzou-se por inteiro e o doce veio mordaz.
a vidinha é assim: não sabe comer pelas beradas. e sofre sem paixão. sempre curiosa, procurava entender, como fazia do horizonte caber num fio de arame. seu manoel da padaria que ficava furioso. vidinha via a vida numa folha de margarida. quando adormecia espichava os olhinhos para deus.
reaprender tomou seu tempo. via que natureza chove por entre os telhados. um desabrigo acolhia a vida, mas o que queria era o alento de outrora. olha, sua majestade convida para um tempo com ptolomeu, onde era rainha e ele plebeu. não entendia como pode um desencontro se espreitar ao desamor.
foi por isso, saiu em busca de torpor. chorou, mentiu, parou. quase sempre agarrava o desconhecido, não vi dela maior parricídio. num minuto foi avessa, no outro suicida. voltava para casa como quem sofre de antemão. por estas bandas vida conheceu a crueldade e a escuridão. é certo combalida, perto de nuvens onde alcança o perfume do sol. sempre à espera do reencontro, entardece reunir o rebanho.
no dia 4 do mês de março um tordo me avisou: dê uma olhada que estão a namorar. de beber água no chapéu eles já sabiam cortejar. enverdavam flores no quintal e mariposas. era coisa rasteira, prima do chão e vela derrete acesa. da brincadeira surgiu complacência: nunca haviam visto seus próprios olhos. se embebedaram mais uma vez. abriu-se o tempo, as margens e o rio. fez-se do corrido ficar de pé. amanheceu nas calhas da vida de ptolomeu como há muito não havia fé.

Joao Vicente

2 comentários:

Anônimo disse...

Marapuama, marapuama...

Anônimo disse...

adoro marapuama