quarta-feira, 16 de julho de 2008

Grande Sertão

Os grandes jornais têm correspondentes em Timor, no Kosovo e na Faixa de Gaza, mas só o Sobrecasaca tem um correspondente na UERJ: eu. É uma função de alto risco. A universidade é o território do insólito, do estranho, do inesperado. Quando menos se espera, um naco de concreto pode cair em sua cabeça, ou uma privada descontrolada pode espirrar em você um jato de água suja, como um gêiser de Yellowstone. Mas nada é mais terrível do que a cafonice intelectual dos aborígenes desta ilha estranha. O antropólogo francês Lévi-Strauss sempre afirmou que o pesquisador social não necessariamente deve se identificar com o grupo ou a tribo estudada. Sábio Lévi. Quando passo por um grupo de remelentos da Conlutas, sorrio por dentro, feliz por não ser um deles. Mas, como um Euclides da Cunha naquele sertão mental, sinto-me impelido a reportar ao mundo civilizado como que a banda toca por lá. Um episódio bem ilustrativo foi a invasão da reitoria, na semana passada. Uma dúzia de jagunços mimados se reuniu no hall principal para gritar palavras de ordem e reivindicar o bandejão, a grande causa atual do movimento estudantil. A turba seguiu em direção à reitoria. Dois seguranças assistiam, entediados ao levante. Na hora, lembrei de uma professora de história, que me disse uma vez que a Queda da Bastilha havia sido uma grande farsa – havia, no dia da tomada, dois guardas e dois prisioneiros. E lembrei também de Darcy Ribeiro, que disse que, se em 64, alguém jogasse um estalinho no meio dos milicos, estes sairiam correndo como zebrinhas amedrontadas. A invasão prosseguiu calmamente, sem quebra-quebra, sem repressão, sem chororô, para tristeza dos jaguncinhos-de-papai, que adorariam fazer o papel de vítima, mas fizeram somente papel de ridículo. O bandejão, mais cedo ou mais tarde, será construído, e poderei fazer então, quem sabe, uma coluna sobre intoxicação alimentar em massa

-Dan-

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