domingo, 15 de março de 2009

Fim de semana em Búzios

-joão vicente-

Viajar com os amigos é sempre bom. Ainda mais quando um deles tem uma casa em Buzios, no litoral norte do Rio de Janeiro - o destino de todo carioca classe media de ferias no Rio. Se pudessem descobrir outro paraiso tropical aqui pelas cercanias, ou baratear as viagens para o sul, mas ter apenas um lugar onde vá toda a populacao classe media de ferias no Rio, que vem aumentando a cada ano, nao é de se alegrar nenhum regime chines de controle de natalidade. Buzios é um desses paraisos tropicais que sao cobicados e invadidos, não só pelos brasileiros, mas pelos estrangeiros. Lá se encontra mais nacionalidades do que na periferia de Los Angeles. Nao me surpreenderia, portanto, daqui a alguns anos, um espanhol naturalizado se candidatar a prefeitura e implantar, como primeiro decreto, feriado municipal de San Pablo de las Missiones. Mas enquanto nada disso acontece, volta e meia, reunimos os amigos para um fim de semana na cidade. Para alguns, passar um fim de semana em Buzios é um sonho. É como ir para o Big Brother: ninguem quer ir embora. E é nestas horas que os valores sao subvertidos. Ao contrario do Big Brother, em Buzios os parentes e amigos distantes aparecem antes de chegar na casa - para que eles possam ir juntos. Alias, a casa tem todos os requisitos que preenchesse, comecando pela localizacao: de frente para a praia rasa, dita uma das primeiras a serem habitadas pelos andarilhos da decada de 70, que iam se fixando na regiao. Ali, onde os primeiros sinais vindos da arrebentacao indicavam mais uma tarde esplendorosa, onde o por-do-sol confundia-se com a aurora, a vida passava ao largo, mais precisamente pela ponte Rio-Niteroi. Podiamos ter aquela famosa sensacao de serem mais longos os dias, a praia ia ate onde os olhos alcancavam, quando o crepúsculo sombreava a pele e ia embora. Mas de um jeito ou de outro, a vida que passava ao largo passa por aqui tambem, na verdade parecia ter ido à Bahia e voltou, e a gente tem que ir lá, atende-la na porta:- Olá, seu Pedro (era o nome do dono da casa), meu nome é Josiel. Sou do carro pipa aqui da regiao, e vim lhe avisar que aconteceu um probleminha aqui na doca do poco artesiano, nao ta dando pra puxar a agua nao viu? olhe, é mais facil o senhor nao tomar banho hoje e nem ligar nenhuma torneira porque senao pode forcar a saida de agua e entrar ar, ai so daqui a duas semanas pra consertar o prejuizo, nao sabe?Muito intrigado, Pedro se perguntava, primeiramente, aonde que os moradores de Buzios arrumavam agua numa situacao dessas. E, em seguida, de onde é que vinha todo aquele jeito diminutivo pra tragédias, que ja acabou com o seu final de semana.- Olha, a gente pega agua na nascente do rio aqui na regiao, mas nao tem nada nao, eh soh umas duas horinhas de trilha. Quanto a sua segunda pergunta, acho que eu nao sei nao senhor. deve vir da minha familia la de juazeiro, nao sabe?Em se tratando de tranquilidade, a vida, em cidades litoraneas como Buzios, nao so passa tranquila como passa enferrugada pela maresia. Todos parecem caminhar pelas ruas como se fosse domingo. Deve ser por isso a proliferacao de padarias e mercearias nessas cidades, ja que domingo é dia de tomar cafe com leite e um pao com mortadela, com ou sem manteiga, no final da tarde. O dia só muda quando o sanduiche vem fatiado pelo cerol da linha da pipa que um muleke despudorado soltava na frente da padaria. Isso me fez lembrar da epoca em que meu tio tinha uma casa em Ponta Negra. Era sempre uma aventura sair na rua em Ponta N egra, se voce nao estivesse de carro, era comum ser dilacerado pelo emaranhado de carreteis e linhas cobertas de cerol das pipas. Para entrar na padaria, por exemplo, tive que regredir aos meus 8 anos e enfrentar uma enorme cama de gato na calcada. Voltando a casa, uma questao nos importunava como a quem sofre por antecipacao. A agua era escassa - havia alguns goles na bica da torneira da cozinha - e se aproximava a hora da grande noite: uma boate local nos havia destinado alguns convites para uma festa fechada onde so iam artistas famosos e consagrados, da televisao e do cinema. Ate hoje eu ainda nao entendi como o convite veio parar nas minhas maos, mas, certamente, a consagracao nao viria por uma boa causa. Enquanto pegava o galao do bebedouro para me banhar, um dos presentes, com o peito em riste, sugeriu que invadissemos a casa do vizinho que viajou para cabo frio. la havia um chuveiro perto da piscina, era so pular o muro da casa. Ninguem queria perder a festa, claro, mas quanto a proposta de invadir o vizinho, o pessoal se dividiu. A outra metade teve que pegar o carro e ir ate um desses condominios que viram clubes la em ferradurinha, ou seja, do outro lado da cidade. Era compreensivel que quando eles chegassem lá fizessem uma sauna, nao e? por que nao? Se fossemos pessoas mais centradas, teriamos é ficado em casa, fazendo macarrao e tocando violao. Mas a chance de ver de perto atrizes de peso - e sem peso - do cinema nacional nao nos fazia desistir da empreitada.(continua no proximo post)

Um comentário:

Carambolices disse...

buzios da minha infanca... saudade... bueno por demais!